Terra estaria nos "cuidados intensivos" se fosse um paciente
29 de fev. de 2024, 15:46
— Lusa
Tedros
Adhanom falava durante a sessão de abertura da VI Assembleia da
Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-6, na sigla em
inglês).“Os sinais vitais são alarmantes”,
afirmou o médico que dirige a OMS, perante uma dezena de chefes de
Estado e de Governo africanos e ministros de todo o mundo, reunidos no
encontro de alto nível da UNEA-6, principal organismo de tomada de
decisões ambientais a nível mundial. “Tem
febre e cada um dos últimos nove meses foi o mais quente registado”,
disse o dirigente da OMS, acrescentando que a “capacidade pulmonar” da
Terra está comprometida, com a destruição dos bosques que absorvem
dióxido de carbono e produzem oxigénio.Tedros
recordou que muitas fontes de água da Terra – o elemento vital – estão
contaminadas e alertou que o mais preocupante de tudo é que o seu estado
está “a deteriorar-se rapidamente”. Neste contexto, apontou não ser de estranhar que a saúde humana esteja “a sofrer”, quando a saúde do planeta está “em perigo”. Como
exemplos desta realidade, Tedros disse que mais ondas de calor
contribuem para “mais doenças cardiovasculares”, enquanto a contaminação
do ar provoca “cancro do pulmão, asma e doença pulmonar obstrutiva
crónica”. Produtos químicos como o chumbo
causam “incapacidade intelectual, doenças cardiovasculares e renais”,
enquanto a escassez de água afeta a produção de alimentos, fazendo com
que as dietas saudáveis sejam “menos acessíveis”, destacou.As
alterações climáticas estão a provocar mudanças no comportamento, na
distribuição, no movimento, no alcance e na intensidade dos mosquitos,
das aves e outros animais que propagam doenças infecciosas, como dengue e
malária, a novas áreas.O comércio ilegal
da vida selvagem, acrescentou, também aumenta o risco de contágio
zoonótico, que pode desencadear uma pandemia.Na
opinião do diretor-geral da OMS, as causas desta crise são
“multissetoriais”, tal como os impactos, e assim deve ser a resposta. “Metemo-nos
coletivamente nesta confusão. Devemos sair disto coletivamente. Nenhum
país, nem nenhuma agência podem fazer isto sozinhos”, defendeu Tedros.A
UNEA-6 reúne esta semana, em Nairobi, mais de 5.000 representantes de
governos, da sociedade civil e do setor privado, incluindo 150 ministros
e viceministros, de mais de 180 países, segundo o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede central em Nairobi,
Quénia.Com a cimeira pretende-se analisar
como o multilateralismo pode ajudar a abordar a chamada “tripla crise
planetária”: as alterações climáticas, a perda de natureza e
biodiversidade, a poluição e os resíduos.Nesta
sexta sessão desde o lançamento da Assembleia, em 2014, os países
avaliam na capital queniana 19 resoluções que abrangem desafios como
travar a desertificação, combater a poluição do ar ou limitar a poluição
química.As resoluções da UNEA, que inclui
os 193 Estados membros da ONU, não são legalmente vinculativas, mas são
consideradas um primeiro passo importante no caminho para alcançar
acordos ambientais globais e políticas nacionais.