Termo açorianidade de Vitorino Nemésio representa o “modo de ser” açoriano
19 de nov. de 2018, 11:04
— Lusa/AO Online
O
professor da Universidade dos Açores, que fala de uma “definição
aproximada”, de forma “mais ou menos simbólica”, patente no clássico da
literatura portuguesa “Mau tempo no canal”, recorda que o escritor da
Praia da Vitória, na ilha Terceira, abordou esta temática em dois textos
publicados no jornal Diário de Notícias e na Imprensa de Ponta Delgada.Para
o estudioso de Nemésio, toda a obra literária do autor do programa de
televisão “Se bem me lembro” é uma “afirmação desse modo de ser
açoriano” em espaço insular.“O
que se descreve [nos textos da imprensa] é a capacidade e apego à
terra, às ilhas, que é um traço do modo de ser açoriano, ao espaço dado
para civilizar e transformado na sua casa, afastado dos continentes, o
que contrabalança com sua capacidade de adaptação e transformação em
cidadão do mundo”, descreve Urbano Bettencourt.Vitorino
Nemésio “visita”, aliás, por várias vezes, Antero de Quental para
traçar o perfil do açoriano como um “homem inquieto que parte da sua
terra para questionar o mundo”.Naquele
que era referido por este escritor como um “viveiro insular”, o homem
adapta-se, com base numa “tradição de raiz portuguesa” que, “num solo e
clima tão diferentes”, gerou um “forte ânimo, uma tranquila altivez”.De
acordo com Urbano Bettencourt, no âmbito do conceito de açorianidade,
Nemésio falava numa “relação conturbada entre Portugal e o seu
território insular”, caracterizada por “algum abandono, justificado, em
primeiro lugar, pela distância física, mas também pela atitude da
metrópole”, com os seus espaços arquipelágicos, que "descuidava o
desenvolvimento" das ilhas.Além
da dimensão literária e cultural, ao termo açorianidade, segundo o
professor universitário, associa-se também uma componente política, no
texto publicado em 1932 e em outros que vieram a público em 1975.Urbano
Bettencourt destaca que Nemésio referia uma “paciência e conformidade
que, de alguma forma, criou o sentido de sobrevivência e resistência
física e histórica”, destacando ainda do texto de 1932 a importância de
geografia e da história para os açorianos como “definidores de um modo
de ser”. O
primeiro livro das obras completas do escritor Vitorino Nemésio, em 16
volumes - "Poesia (1935-1940)" -, foi lançado este ano no mercado.Numa
iniciativa da editora Companhia das Ilhas, em parceria com a Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, o volume, que reúne a primeira produção poética
do escritor, está dividido em duas partes: "Poesia (1916-1930)" e
"Poesia (1935-1940)".O
primeiro dos quatro livros de poesia do autor, antecipa a revelação de
inéditos (no quarto volume) e vai ser apresentado na próxima
quinta-feira, às 18:30, na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em
Lisboa, pelo catedrático Luiz Fagundes Duarte, responsável pela edição
da obra.Vitorino
Nemésio, cuja obra literária compreende, entre outros, o título “Mau
Tempo no Canal”, considerado pela crítica literária um dos maiores
romances portugueses do século XX, nasceu em 19 de dezembro de 1901, na
Praia da Vitória, na ilha Terceira, e morreu em Lisboa, em 20 de
novembro de 1978.Incluído
entre os grandes escritores portugueses do século XX, pela investigação
académica, Nemésio recebeu, em 1965, o Prémio Nacional de Literatura e,
em 1974, o Prémio Montaigne.A
sua obra compreende cerca de 40 títulos na área da fição, poesia,
ensaio e crítica, a par da crónica, como "Festa Redonda" (1950), "Nem
Toda a Noite a Vida" (1952), "O Pão e a Culpa" (1955), "O Verbo e a
Morte" (1959), "O Cavalo Encantado" (1963), "Canto da Véspera" (1966) e
"Sapateia Açoriana" (1976), além de "Mau Tempo no Canal" (1944).