Temperatura do planeta pode estabilizar nos valores de há três milhões de anos
26 de fev. de 2020, 15:46
— Lusa/AO online
“Será o
menos mal”, acrescentou a investigadora, especialista em oceanografia
geológica e paleoceanografia, autora de artigos científicos e uma das
profissionais do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).Fátima
Abrantes falava à Lusa no âmbito de um seminário que o IPMA organizou
esta quarta-feira em Lisboa sobre “Alterações Climáticas e recursos marinhos:
passado, presente e futuro”.Falando sobre
“fenómenos extremos no passado”, Fátima Abrantes socorreu-se durante a
intervenção no seminário de dados científicos para explicar que
alterações climáticas já aconteceram no passado e que os oceanos
sofreram grandes transformações, com zonas de muito peixe a ficarem
despovoadas e vice-versa.Mas a
especialista explicou que não estava a negar ou desvalorizar o atual
processo de alterações climáticas, que, disse, está a acontecer de forma
mais intensa e mais rápida do que noutros momentos, devido à ação do
Homem sobre o planeta.“O que está estável
há 15 milhões de anos na Antártida e há 2,6 milhões no Ártico está a
tornar-se instável de uma maneira muito rápida. A questão não é que
nunca aconteceu, já aconteceu, a questão é que a quantidade e rapidez
com que está a aumentar é muito superior”, exemplificou à Lusa.Otimista
em relação ao planeta, Fátima Abrantes já o é menos quanto aos seres
humanos. Diz que as alterações de clima que existem desde o inicio da
vida da Terra mostram que o sistema climático se altera “mas que tudo se
rearranja e que o planeta continua”, ainda que as condições possam “não
ser muito favoráveis para os humanos”.“Há
alterações na biodiversidade, certamente organismos serão extintos e
outros aparecerão, mas nos não sei se teremos capacidade para resistir”,
avisa.Há três a cinco milhões de anos
também se registava grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera, e há 65 milhões as concentrações ainda eram superiores,
supostamente devido à libertação de grandes quantidades de metano, um
processo que pode agora estar a repetir-se, disse a cientista.Nos
últimos mil anos, lembrou Fátima Abrantes, houve na Europa um aumento
da temperatura no período medieval, ao que se seguiu um arrefecimento. A
diferença das temperaturas foi de cerca de um grau, o suficiente para
os vikings se expandirem e ocuparem a região da Europa do norte, no
período medieval, e quase desaparecessem no período frio por “não
conseguirem adaptar-se às novas condições”. Os inuítes (Canadá) no
entanto conseguiram adaptar-se.Fátima
Abrantes citou um estudo para dizer que os vikings tinham uma sociedade
mais complexa e que por isso não se adaptaram tão bem como os inuítes, e
conclui: “Acredito que quanto mais complexa a organização mais difícil
conseguir que a população, como um todo, aceite a possibilidade de ter
que alterar a forma de vida”.A
investigadora lembra a complexidade das sociedades atuais. E também que
muitos políticos influentes são hoje céticos em relação às alterações
climáticas.É verdade que as alterações
climáticas sempre existiram “só que os ciclos no passado estavam
associados às variações orbitais, que têm a ver com a posição da Terra
em relação ao Sol”. Eram ciclos muito longos e o aumento de CO2 era
mínimo em relação que acontece hoje, na alteração provocada pela Homem,
disse.“O problema não é o efeito de
estufa, é o seu aumento descontrolado”, acrescentou Silvia Antunes,
técnica superior do IPMA, que citou estatísticas para dizer que os meses
de novembro e de março têm sido aqueles em que têm sido sentidas as
diferenças de temperatura mais significativas.Pela
rapidez das alterações, no seminário falou-se também da necessidade de
minimizar impactos, como fez a especialista Susana Costas, a propósito
da proteção da orla costeira algarvia face à subida do nível da água do
mar.O seminário termina na tarde de hoje, com a discussão dos impactos económicos e adaptações às alterações climáticas.