Teletrabalho não é "nenhuma panaceia dos tempos modernos" mas tem vantagens
6 de abr. de 2021, 11:42
— Lusa/AO Online
“Não
vemos no teletrabalho nenhuma panaceia dos tempos modernos. Mas sabemos
da inevitabilidade do recurso a novas formas de prestação do trabalho e
queremos, porque podemos tirar dele as vantagens que possa ter ao nível
da motivação e da conciliação da vida pessoal, familiar e
profissional”, disse o governante. José
Couto falava na abertura do ‘webinar’ de apresentação do estudo “A
adaptação dos modelos de organização do trabalho na Administração
Pública Central durante a pandemia covid-19: dificuldades e
oportunidades”, realizado pela Direção-Geral da Administração e Emprego
Público (DGAEP).Durante a sua intervenção,
o secretário de Estado lembrou que depois de ultrapassada a pandemia, o
Governo pretende, até ao final desta legislatura, atingir 25% de
teletrabalhadores, do universo de trabalhadores que podem exercer as
suas funções nesta modalidade de trabalho.O
governante lembrou que a Administração Pública preparou “em tempo
recorde uma operação muito complexa, para conseguir num curto espaço de
tempo garantir que todos os trabalhadores que pudessem exercer as suas
funções em teletrabalho o pudessem fazer”. “O
contexto pandémico veio acelerar esta transformação tecnológica nos
serviços da Administração Pública, o que comprova que é possível mudar
processos tornando-os mais eficientes”, considerou. O
Governo tem insistido que este movimento, “por ter inequívocas
vantagens”, não deve ser abandonado depois da pandemia, afirmou. “Depois
desta experiência foi possível desconstruir alguns preconceitos sobre o
teletrabalho, designadamente, ao nível da produtividade, destruição da
cultura organizacional e de equipas, segurança de dados, entre outros”,
disse. O teletrabalho na Administração
Pública, continuou, alinhado com um movimento de inovação, de
modernização, de novas abordagens, e de capacitação da própria
Administração Pública “pode e deve ser um agente ativo da mudança”.Durante
a pandemia, o recurso ao teletrabalho na Administração Pública veio
demonstrar que dirigentes e trabalhadores conseguiram trabalhar cada vez
mais em rede e para além das lógicas mais formais e dos circuitos
clássicos a que está habituada a Administração Pública.“Mas
também é verdade que o recurso ao teletrabalho obrigatório, em massa e
em permanência, num contexto em que, devido à pandemia toda a família se
encontrava confinada no domicílio, não faz transparecer aquilo que pode
ser esta modalidade de prestação do trabalho em tempo de normalidade,
nem aquilo que queremos que seja o recurso ao teletrabalho no futuro”,
reconheceu.Segundo o estudo realizado pela
DGAEP, os funcionários públicos apontam a falta de contacto com colegas
e o aumento de despesas como os pontos mais negativos do teletrabalho, e
a redução do tempo em deslocações como o mais positivo. Através
de entrevistas aos dirigentes e trabalhadores de 29 entidades da
administração central direta e indireta, o estudo procurou não só
avaliar como correu a adaptação à forma de trabalhar imposta pela
pandemia, como também identificar pontos fortes, e fracos,
potencialidades e ameaças do teletrabalho. De
acordo com o estudo, entre os trabalhadores que estiveram em
teletrabalho – e que chegaram aos 68.000 durante o primeiro confinamento
geral, em 2020 – mais de um terço (37,02%) afirmou que a entidade
empregadora não lhe disponibilizou quaisquer meios ou equipamentos para
poder realizar a sua atividade em teletrabalho.A
estes somam-se 28,28% que admitem que houve uma disponibilização
parcial de meios, sendo que 34,7% afirmam ter havido disponibilização
dos meios e equipamentos necessários para o teletrabalho.Apesar
de até março de 2020, apenas pouco mais de 1% destes trabalhadores ter
tido alguma experiência de teletrabalho, o estudo indica que a quase
totalidade dos trabalhadores que teve de trabalhar a partir de casa não
revelou problemas de adaptação.O estudo
concluiu também que a produtividade e qualidade do trabalho dos
funcionários públicos colocados em teletrabalho manteve-se igual ou
melhorou por comparação com o registado quando estão em regime
presencial. Recorde-se que na sequência do
primeiro confinamento geral, em 2020, cerca de 68.000 funcionários
públicos estiveram em teletrabalho. No atual confinamento, esse número
foi de 60.000 segundo disse, em declarações à Lusa a ministra Alexandra
Leitão. Segundo a governante, o Estado
gastou 10,8 milhões de euros, em 2020, em equipamentos para o
teletrabalho na Administração Pública.De
acordo com o estudo, 66% dos inquiridos apontou o acréscimo de despesas
com Internet, energia, computadores e outros elementos necessários para
trabalhar em casa como um dos pontos mais negativos do teletrabalho.Alexandra
Leitão referiu que esta questão das despesas “terá de ser analisada até
em parceria com a área do Trabalho, uma vez que esta é uma matéria
regulada no Código do Trabalho e que não tem uma regulamentação
específica na Administração Pública”. Alexandra
Leitão realçou ainda o facto de o estudo demonstrar que não existem
razões para um estigma sobre o teletrabalho e está a ser desenvolvido um
trabalho entre os vários serviços visando a produção de guias para a
adaptação de formas de trabalhar neste regime.A
ministra tem referido que o número de trabalhadores da Administração
Pública com funções compatíveis com o teletrabalho, na administração
central ronda os 70.000, sendo que o recurso a este regime será sempre
numa base voluntária.