Técnicos do INEM rejeitam críticas e dizem que sempre estiveram "na linha da frente"
Hoje 12:24
— Lusa/AO Online
Numa
carta aberta que está a ser partilhada por dezenas de TEPH nas redes
sociais, a que a Lusa teve acesso, estes profissionais respondem a Luis
Cabral, que no fim de semana, em entrevista ao Público, fez duras
criticas à postura dos técnicos durante a greve de 2024, que considerou
ter tido uma “vertente ética e deontológica gravíssima”.A
este respeito, os TEPH lembram nesta carta aberta que o que aconteceu
em 2024 “não foi culpa dos técnicos”, que os profissionais escalados
compareceram e que a “recusa dos serviços extra” não foi um ato de
irresponsabilidade, mas “um grito de alerta”. “O
trabalho extraordinário é, como o nome indica, extra. Ainda assim,
durante anos, foi feito de forma contínua, com horas sem fim, porque os
técnicos sabem que o cidadão precisa deles. Só quando esse limite foi
atingido é que alguém decidiu ouvir”, escrevem.No
relatório sobre a verificação do cumprimento das normas de organização
do trabalho e da capacidade operacional dos Centros de Orientação de
Doentes Urgentes (CODU) nas greves de outubro e novembro de 2024, a
Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) tinha concluído que apenas
a paralisação que incidiu sobre o trabalho suplementar/horas
extraordinárias, decretada pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência
Pré-Hospitalar (STEPH), foi comunicada ao INEM, com pré-aviso de greve.Os
restantes pré-avisos - das greves gerais decretadas pela Federação
Nacional de Sindicatos Independentes da Administração Pública e de
Entidades com Fins Públicos (FESINAP) e pelo Sindicato Nacional dos
Trabalhadores dos Serviços e de Entidades com Fins Públicos (STTS), para
31 de outubro, e pela FESINAP, para 04 de novembro – “não foram
comunicados diretamente ao INEM”, pelo que a informação não circulou e
os serviços mínimos não foram decretados como deveriam.Segundo
a IGAS, a mitigação do impacto da sobreposição da greve dos TEPH ao
trabalho suplementar com as greves gerais da administração pública na
capacidade operacional dos CODU “não foi acautelada, por não terem sido
acionados os mecanismos e formalidades legalmente previstos para
contestar e negociar os serviços mínimos, nem para fixar o cumprimento
dos serviços mínimos previstos no acordo coletivo de trabalho vigente”.No
domingo, numa nota enviada à Lusa, o Sindicato dos Técnicos de
Emergência Hospitalar (STEPH) acusou o presidente do INEM de estar à
procura de “um bode expiatório” e de atacar os profissionais, admitindo
processar Luis Cabral.O departamento
jurídico está “a analisar as declarações proferidas para acionar
eventuais medidas legais que venham a ser consideradas necessárias para
defender os trabalhadores do INEM”, escreveu o STEPH.O
sindicato considera que “o presidente do INEM procura colocar em causa a
dignidade profissional dos TEPH, insinuando que estes não se afirmam
como profissionais da área da saúde”, e recorda: “são profissionais de
saúde altamente qualificados, com formação específica e competências
técnicas reconhecidas, que atuam na linha da frente da emergência
médica, frequentemente em contextos de enorme pressão, risco e escassez
de meios, colmatando falhas estruturais do sistema que se arrastam há
anos”.Na carta aberta que hoje estão a partilhar, os TEPH consideram que “a história do INEM não se escreve sem os seus técnicos”.“Evoluímos
com o sistema, crescemos com ele e ajudámos a moldá-lo. Fomos nós que
garantimos a resposta pré-hospitalar em milhares de ocorrências, que
estabilizámos doentes, que entregámos vidas com esperança às portas dos
hospitais. Esse percurso não pode ser apagado nem desvalorizado”,
escrevem.Garantem que não querem destruir o
INEM, mas sim “vê-lo crescer, evoluir e responder melhor” e referem que
representam “cerca de 70% da força operacional do instituto”. “Ignorar-nos
é desperdiçar conhecimento, experiência e vontade de fazer melhor.
Valorizar-nos, investir na nossa formação e ouvir quem conhece a
realidade do pré-hospitalar é a única forma inteligente de garantir um
INEM mais forte e mais preparado para o futuro”, defendem.Na
entrevista que deu ao Público, Luis Cabral revelou que pretende pôr os
enfermeiros no atendimento das chamadas e entregar aos técnicos a gestão
dos meios de emergência, referindo que vai implementar nas centrais de
atendimento e acionamento de meios um sistema de triagem semelhante ao
dos hospitais, com tempos de resposta adequados ao nível de prioridade
do doente.