TdC diz que descentralização para autarquias merece "atenção especial”
13 de dez. de 2021, 18:31
— Lusa/AO Online
“O
processo de descentralização em curso para as autarquias locais merece
uma atenção especial do TdC, tendo em vista suscitar questões e apontar
soluções para o seu efetivo acompanhamento”, afirmou José Tavares,
referindo que o plano de ação do tribunal para 2022 inclui esse
trabalho.Falando na apresentação do
Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2020, o presidente do TdC
defendeu que “o completo conhecimento da realidade contribuirá sem
dúvida para que os governos locais possam concretizar uma melhor gestão
dos recursos públicos e da despesa pública e da disponibilização de bens
e serviços que têm um impacto direto na vida das populações”.“E
este Anuário, justamente, vem ao encontro deste conhecimento mais
completo da realidade”, indicou José Tavares, considerando que este
estudo financeiro das contas dos municípios portugueses é “verdadeiro
serviço público”, ao qual o TdC se associou desde o primeiro momento,
através do acesso a documentação que nos termos da lei é remetida a este
órgão de supremo de fiscalização da legalidade das despesas públicas.Publicado
desde 2003, o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses é da
responsabilidade do Centro de Investigação em Contabilidade e
Fiscalidade do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) do Centro
de Investigação em Ciência Política da Universidade do Minho, que conta
com o apoio da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) e do TdC, com
o objetivo de ser uma referência na monitorização da eficiência do uso
de recursos públicos pela administração local. À semelhança de anos
anteriores, a edição de 2020 foi coordenada pela investigadora do IPCA
Maria José Fernandes.“Trata-se de uma
iniciativa extremamente importante, uma vez que trouxe para a praça
pública e para todos nós um instrumento indispensável da análise e
conhecimento aprofundado da realidade municipal portuguesa”, reforçou o
presidente do TdC, referindo que as autarquias locais gerem quantias
consideráveis de recursos públicos, de forma a dar resposta às
necessidades das populações respetivas, como se verificou no âmbito da
pandemia, pelo que é essencial aperfeiçoar a auditoria neste domínio,
“através da partilha das melhores práticas e das melhores experiências, é
também um esforço de que são beneficiários os próprios municípios e as
freguesias”.Sobre o estado da arte no que
respeita à nova era da prestação de contas, o TdC tem procurado
acompanhar a reforma dos sistemas contabilísticos e a efetiva aplicação
pelas cerca de 6.500 entidades públicas sujeitas à sua jurisdição e
controlo, nomeadamente a implementação do Sistema de Normalização
Contabilística - Administrações Públicas (SNC-AP).Dados
até ao final de outubro deste ano indicam que “prestaram contas ao
Tribunal 6.450 entidades, das quais 3.258 em SNC-AP, ou seja cerca de
51%”, revelou José Tavares, acrescentando que 1.995 contas prestadas em
SNC-AP são da responsabilidade da Administração Local e 4.093 das contas
foram prestadas de acordo com a instrução nº 1/2019, das quais 80% em
SNC-AP e 20% de acordo com os demais regimes contabilísticos.“Ainda
não transitaram para o SNC-AP cerca de 29% das entidades, prevendo-se
que até 2023 o processo de transição seja concluído”, indicou.Para
o presidente do TdC, o SNC-AP representa “uma fase muitíssimo
importante na nossa vida coletiva e no que respeita às finanças públicas
na parte relativa à prestação de contas”, assente nos princípios do
rigor e da transparência, ainda que subsistam situações de prestação de
contas em suporte papel, “mas são residuais e sobretudo relativas a
entidades que estão em processo de liquidação”.No
plano de ação do TdC para o futuro está o investimento na transformação
digital e auditoria, apontou José Tavares, explicando que tal será
feito “com o aprofundamento do recurso à inteligência artificial, com
todos os cuidados que importa ter neste domínio”, através do
recém-criado centro de inovação tecnologia e metodologias e do já
experiente departamento de sistemas e tecnologias de informação,
facilitando o trabalho no sentido da sua qualidade.Partilhando
a ideia de que o Anuário é um serviço público, a bastonária da Ordem
dos Contabilistas Certificados (OCC), Paula Franco, considerou que “os
municípios são realmente um dos melhores exemplos naquilo que é a
aplicação do SNC-AP e na existência de contabilistas certificados em
toda a cadeia”, reforçando que “a transparência das contas públicas é
muitíssimo importante”.“Uma boa prestação
de contas é essencial para tudo, aliás somos muito exigentes com as
empresas, mas temos que ser ainda mais exigentes com as contas públicas,
as contas públicas são a gestão de todo o nosso dinheiro, todos os
nossos impostos, da forma como os impostos são aplicados, e todos nós
enquanto cidadãos gostamos de ter informação e de saber mais o que se
passa”, declarou Paula Franco, destacando o papel do Anuário Financeiro,
que conta já na 17.º edição.Segundo o
Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, hoje divulgado, o passivo
exigível dos municípios baixou globalmente 138 milhões de euros em
2020, ano em que, apesar da pandemia de covid-19, 218 reduziram as suas
dívidas em pagamento.