Taxa de consumidores abusivos ou dependentes do álcool triplicou desde 2017
3 de abr. de 2024, 16:03
— Lusa
Em
2022, 3,5% da população entre os 15 e os 74 anos era consumidora
abusiva ou dependente de álcool, “o que representa, aproximadamente,
259.000 indivíduos”, revela o relatório final do V Inquérito Nacional ao
Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral, Portugal 2022,
divulgado hoje pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as
Dependências (ICAD).Através de um
questionário com apenas quatro perguntas, os investigadores avaliaram o
uso abusivo e dependência de álcool e concluíram que este é um problema
que tem vindo a aumentar desde 2012.Em
2012, estes casos representavam 0,8% da população, tendo subido para 1%
em 2017 e agora para 3,5%, segundo o relatório, que mostra que a
situação é bastante mais grave entre os homens (5,9%) do que entre as
mulheres (1,3%).O consumo abusivo ou dependente aumenta também com a idade, sendo particularmente expressivo entre os 35 e os 64 anos.Também
aumentaram os episódios de consumos excessivos, conhecidos como
“binge”, ou seja, de pelo menos seis bebidas para os homens e quatro
para as mulheres, segundo o resultado das entrevistas realizadas entre
setembro de 2021 e novembro de 2022.Uma em
cada dez pessoas (10,3%) admitiu ter tido pelo menos um desses
comportamentos excessivos no último ano, sendo mais habitual entre os
homens e na população entre os 25 e os 44 anos.Há
também mais casos em que os inquiridos ficaram “a cambalear, com
dificuldade em falar, a vomitar e ou sem se recordarem do que aconteceu
depois de terem bebido”. Mais uma vez, estes são episódios mais comuns
entre homens e jovens entre os 15 e os 34 anos.O
estudo mostra ainda que é aos 16 anos que os jovens começam a beber e
que mais de metade (59,2%) dos jovens entre os 15 e os 24 anos já
consumiu ou consome álcool com alguma regularidade (40% disse tê-lo
feito no último mês).O principal motivo
para um consumo frequente é a “sensação e o gosto do efeito provocado
pela bebida”, havendo quem associe o álcool à diversão, acreditando por
isso que vai “melhorar festas e comemorações” e “tornar os encontros
sociais mais divertidos”.Por outro lado,
um quarto da população é abstinente: Entre as mulheres, a taxa sobe para
os 35 % e entre os homens desce para os 15 %, revela o estudo que
mostra que a percentagem de abstinentes também aumentou 10 pontos em
relação a 2017.Questionados sobre as
razões que os levaram a não beber, os inquiridos apontaram como
principais motivos a falta de interesse e a consciência sobre as
consequências para a saúde. Estar grávida ou a amamentar ou estar a tomar medicação são outras das justificações.O
relatório apresenta ainda motivos associados à educação e socialização:
26% considerou muito importante ter visto maus exemplos decorrentes do
consumo de bebidas alcoólicas e 23,8% apontou ter sido educado para não
beber.Quase 50% dos abstémios apontaram questões financeiras – ser caro ou ser um desperdício de dinheiro – para não beber. No entanto, fora deste universo, há 75,8% da população que admite consumir álcool, dos quais 30% o fazem diariamente.O vinho é a bebida de eleição, seguida da cerveja e das bebidas espirituosas.É
no norte que o consumo é mais elevado: 81,9% dos residentes disse já
ter bebido, dos quais 68,5% no último ano e 59,9% no último mês.As
outras regiões com maiores consumos ao longo da vida são o centro
(74%), Lisboa e Vale do Tejo (71,7%) e a Madeira (71,2%). Por oposição, o
arquipélago dos Açores surge como a região com menor incidência
(51,9%).O inquérito foi realizado pelo
CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade
Nova de Lisboa (NOVA FCSH) para o SICAD – Serviço de Intervenção nos
Comportamentos Aditivos e nas Dependências, na sequência dos estudos
realizados em 2001, 2007, 2012 e 2017.