TAP é a transportadora europeia com o segundo maior crescimento de emissões de carbono
2 de abr. de 2019, 09:24
— Lusa/AO Online
A Comissão Europeia publicou na segunda-feira
os dados sobre as emissões de gases com efeito de estufa gerados pelas
companhias aéreas que operaram no espaço europeu em 2018, abrangidas
pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE). A
associação ambientalista ZERO, juntamente com a Federação Europeia dos
Transportes e Ambiente (T&E), analisou os dados reportados pelas
companhias aéreas sobre as emissões dos voos efetuados dentro do espaço
europeu, com a exceção dos voos realizados de e a partir das ilhas dos
Açores, Madeira e Canárias, concluindo que a TAP é o 5.º maior emissor
de carbono em Portugal, além de deter a 2.ª posição no crescimento de
emissões nos últimos dois anos entre as companhias europeias analisadas.
A ZERO sublinha, em comunicado, que o
desempenho ambiental da TAP foi também analisado no contexto europeu
pela T&E e “mereceu uma nota negativa”. “Nos
últimos dois anos, as emissões da TAP aumentaram 13%, assumindo-se como
a segunda companhia europeia com o maior crescimento de emissões (só
ultrapassada pela companhia Jet2). Nos últimos cinco anos - entre 2013 e
2018 - as emissões da TAP aumentaram 30%”, refere a associação. A
ZERO considera, contudo, que “estes resultados evidenciam o crescimento
do tráfego aéreo nos últimos anos evidenciado em todos os aeroportos
nacionais e também pelas companhias que operam em Portugal com maior
número de movimentos e passageiros transportados, o que está relacionado
com a recuperação económica e a atratividade do país para o turismo”. “Quando
Portugal definiu um plano nacional para atingir o objetivo da
neutralidade carbónica a atingir em 2050, o setor da aviação foi
praticamente ignorado”, diz a ZERO, que “apela ao Governo para que acabe
com os benefícios fiscais das companhias aéreas para reduzir emissões
neste setor”. A associação ambientalista
adianta que entre as companhias analisadas, a Ryanair destaca-se como um
dos 10 principais emissores de dióxido de carbono da Europa, num grupo
que era tradicionalmente ocupado apenas por centrais elétricas a carvão,
“o que evidencia o fracasso na implementação de medidas eficazes para
conter o crescimento das emissões deste setor beneficiado por isenções
fiscais (no IVA e ISP para os combustíveis e no IVA para os bilhetes de
avião)”. Na Europa, as emissões da aviação
aumentaram 4,9% em 2018, em contraste com outros setores abrangidos
pelo CELE, que caíram 3,9% no total. As emissões de gases com efeito de
estufa dos voos efetuados dentro do espaço europeu (abrangidos pelo
CELE) aumentaram 26,3% nos últimos cinco anos, “ultrapassando, de longe,
qualquer outro modo de transporte”, lê-se. “Não
é de todo surpreendente que o modo de transporte menos tributado seja
também aquele que apresenta um crescimento das emissões mais rápido.
Para as associações de defesa do ambiente, esta tendência de crescimento
das emissões irá manter-se até que a Europa perceba que este setor não
está a ser adequadamente tributado e pouco regulamentado, e precisa ser
alinhado com a exigência do Acordo de Paris e do objetivo de a Europa
tornar-se neutra em carbono em 2050”, afirma a ZERO. Entre
as “medidas urgentes” a implementar, na opinião da ZERO “é necessário
acabar com a atribuição de licenças de emissão gratuitas dentro do CELE,
introduzir um imposto sobre o querosene e os bilhetes de avião e
definir metas obrigatórias que obriguem as companhias aéreas a
introduzir combustíveis mais limpos (como o querosene sintético,
produzido a partir de eletricidade renovável e carbono capturado do
ar)”.“Em vez de acabarem com os benefícios
de que a aviação dispõe, os governos estão a perseguir um esquema
polémico para a compensação das emissões implementado ao nível das
Nações Unidas (fortemente influenciado pela indústria da aviação),
conhecido como Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International
Aviation (CORSIA), e que está a favorecer o crescimento das emissões”,
denuncia a ZERO. Para a associação
ambientalista “existem sérias dúvidas sobre a eficácia ambiental das
compensações de carbono feitas pelas companhias aéreas e que lhes
permite, na prática, usufruir de uma licença para continuar a emitir”.