Talibãs proíbem mulheres afegãs de trabalhares para a ONU em todo o país
5 de abr. de 2023, 10:39
— Lusa/AO Online
“Fomos informados por
diferentes canais que a proibição se aplica a todo o país”, realçou
Stéphane Dujarric, citado pela agência France-Presse (AFP).Inicialmente,
a missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) tinha anunciado que
os talibãs tinham proibido as seus funcionárias de trabalhar na
província oriental de Nangarhar.Dujarric referiu que a decisão é para todo o território e que a ONU ainda está à procura de mais informações.Esta
quarta-feira estão marcadas reuniões em Cabul com os “governantes de
facto” do país para tentar esclarecer os detalhes, enquanto se avalia o
seu possível impacto, acrescentou.“Para o
secretário-geral [António Guterres] tal proibição é inaceitável e
francamente inconcebível”, apontou, denunciando a vontade de “minar as
capacidades das organizações humanitárias para ajudar quem mais
precisa”.O porta-voz do secretário-geral
das Nações Unidas, deixou claro que, sem as mulheres, as Nações Unidas
não poderão continuar a ajudar o país população como tem feito."As
mulheres do nosso quadro são essenciais para que as Nações Unidas
prestem uma ajuda vital", sublinhou o porta-voz durante a sua
conferência de imprensa diária.Dujarric
vincou que este veto não só viola "os direitos fundamentais das
mulheres" como também dificulta a continuidade do trabalho da
organização no terreno.Entre outras
coisas, recordou que "dada a sociedade e a cultura" no Afeganistão "são
necessárias mulheres para ajudar as mulheres", que estão entre as mais
ameaçadas pela enorme crise humanitária no país, aludindo ao facto de
que em muitas regiões não é bem visto que os homens atendam as mulheres,
ou vice-versa.De acordo com Dujarric, a
proibição é "inaceitável" e contribui para uma "tendência preocupante de
minar a capacidade das organizações de ajuda humanitária de alcançar os
mais necessitados".Segundo dados da ONU,
entre 30 e 40% do pessoal das organizações humanitárias que entregam,
gerem, controlam ou avaliam a necessidade de assistência são mulheres.Dujarric
acrescentou que a organização tem atualmente cerca de 4.000 pessoas a
trabalhar no Afeganistão, das quais cerca de 3.300 são nativas do país,
embora não tenha revelado quantas são mulheres.No
dia seguinte à proibição, várias ONG anunciaram a suspensão das suas
atividades, antes de as retomarem em meados de janeiro com o apoio das
suas funcionárias em alguns setores que se beneficiam de isenções, como
saúde e nutrição.As mulheres ou a educação
das raparigas são um assunto sensível no Afeganistão, após a tomada do
poder pelos talibãs em agosto de 2021.Os talibã impedem as mulheres de participarem na vida pública do país tendo muitas afegãs perdido os empregos no setor público.Desde novembro do ano passado as mulheres afegãs foram também proibidas de frequentarem parques, ginásios e banhos públicos.As
mulheres afegãs não são autorizadas a viajar sem serem acompanhadas de
um parente do sexo masculino e devem estar sempre cobertas quando saem
de casa.