Sustentabilidade do Património Cultural exige equilíbrio com turismo
29 de out. de 2019, 10:33
— Lusa/AO Online
“Com
a globalização e com as viagens mais baratas, o turismo aumentou
exponencialmente, o que tem muitas vantagens – para o caso português tem
sido muitíssimo importante para o desenvolvimento económico do país –,
mas também tem o seu lado negativo, que é a massificação e alguns
problemas nalguns locais, porque outros ainda precisam de pessoas e de
ser conhecidos”, salientou. Paula Araújo
da Silva falava aos jornalistas, à margem da sessão de abertura do VII
Encontro Ibérico de Gestores de Património Mundial, que decorre até
terça-feira, em Angra do Heroísmo, nos Açores, e que tem como tema os
desafios da sustentabilidade.Num encontro
em que gestores portugueses e espanhóis partilham boas práticas de
conservação do património, a diretora-geral defendeu que Portugal tem
bons exemplos a dar. “Evidentemente que
temos situações frágeis, há situações difíceis de resolver, mas temos
feito um esforço muito grande para valorizar o nosso património e para
que o nosso património seja utilizado por todos nós”, frisou,
acrescentando que cabe a todas as pessoas “zelar pelo património”.Angra
do Heroísmo, primeira cidade em Portugal integrada na lista de
Património Mundial da Humanidade da organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), é, segundo Paula Araújo da Silva,
“um bom exemplo da forma como o património está a ser cuidado” e uma
das cidades que ainda tem espaço para “ter mais turismo que ajude a
desenvolver a economia”. Questionada sobre
as exigências da manutenção da Fortaleza de São João Baptista,
construída pelos espanhóis, em Angra, entre o final do século XVI e o
início do século XVII, a diretora-geral do Património Cultural propôs
uma candidatura a fundos europeus. “A
questão das fortalezas é uma questão importante e difícil, que existe a
nível nacional. As fortalezas perderam a sua função, já não têm essa
função de salvaguarda da defesa, e quando se perde a função, o
património fica fragilizado e essa função não pode ser reposta, porque
já não se justifica estar um canhão e uma pessoa à frente do canhão à
espera que chegue o barco com os piratas”, sublinhou, alegando que é
preciso encontrar uma nova função que não prejudique o património e
garanta a sustentabilidade do bem. Para a
diretora regional da Cultura dos Açores, Susana Goulart Costa, a
sustentabilidade dos bens culturais é precisamente “o grande desafio do
século XXI”. “Um dos grandes esforços que
nós temos é, em primeiro lugar, fazer um diagnóstico, tentar perceber
exatamente quais são as fragilidades dos edifícios que nós temos e ter
duas questões: por um lado uma sustentabilidade financeira para a sua
manutenção e, por outro, uma reabilitação que consiga fazer este
diálogo, que às vezes não é fácil, entre a antiguidade, a conservação,
aquilo que nós herdámos, mas também as exigências do conforto do
quotidiano”, adiantou.Susana Goulart Costa
salientou, por outro lado, a vulnerabilidade dos Açores às alterações
climáticas, dando como exemplo a recente passagem do furação “Lorenzo”
pelo arquipélago.“Temos de ter uma gestão
de preparação, temos de perceber quais são os eixos de prevenção que
temos de acautelar para, em primeiro lugar, proteger as vidas humanas e,
na área da UNESCO, a questão das vidas humanas também está muito ligada
à proteção do património classificado ou de interesse municipal”,
apontou.Já a subdiretora geral da Proteção
do Património Histórico de Espanha, Elisa de Cabo de Vega, considerou
que Portugal é um exemplo na divulgação do património. “Podemos
ter muitos sítios Património Mundial, mas se não o comunicarmos, é como
não se não os tivéssemos”, frisou, dando como bom exemplo as
referências à integração de Angra do Heroísmo na lista da UNESCO, que
encontrou logo à chegada à ilha Terceira no aeroporto.