Subcomissão de Ética vai analisar critério de fixação de residência dos deputados
10 de mai. de 2018, 09:07
— Lusa/AO online
"Regras
claras para os cidadãos, claras para os serviços, são sempre
preferíveis quando existam zonas cinzentas. Portanto, caso se conclua
pelo mesmo caminho [dos abonos às viagens dos deputados das regiões
autónomas] que é necessário fazer essa revisão, da parte do PS sempre
manifestámos essa vontade e disponibilidade para o fazer", afirmou Pedro
Delgado Alves.Falando
aos jornalistas, no parlamento, o deputado do PS revelou que foram
pedidos pareceres à subcomissão de Ética sobre o critério da fixação de
domicílio, na sequência de notícias recentes, designadamente, uma
reportagem da RTP. "Não
é uma matéria em que não existam regras, elas existem, são conhecidas
há muito tempo e, à partida, os casos que foram conhecidos, tomaram por
base parte dessas regras e parte daquilo que era prática parlamentar e
de que os serviços iam dando nota", afirmou.O
deputado socialista sublinhou que o critério da fixação de morada é uma
questão distinta das viagens, uma vez que não houve nenhuma alteração
legal que obrigue a uma eventual harmonização com regras da Assembleia
da República, como é o caso da legislação produzida em 2008 e 2015 para o
subsídio de mobilidade dos residentes insulares, que não foi adaptada
às regras do parlamento de atribuição de abono aos deputados das regiões
autónomas. "O
exercício de atividades parlamentares pressupõe para muitas pessoas que
não residam em Lisboa no momento em que são eleitos, a necessidade de
fixação de residência em Lisboa para o período em que estão em atividade
parlamentar, mas isso não desonera estas pessoas de continuarem a ter o
centro da sua vida familiar, da sua vida social, da sua vida política,
no círculo pelo qual foram eleitos", sustentou.A
posição do PS é que os deputados devem continuar a indicar "aquela que é
a sua morada e em que continua a ter essa ligação ao núcleo social,
familiar, profissional". "´É, aliás, a isso que corresponde de uma forma ou de outra, a maior parte dos casos que têm sido noticiados", disse.Relativamente
ao parecer hoje revelado acerca dos apoios concedidos aos deputados
residentes nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, Delgado Alves
reiterou que o parlamento deve refletir sobre um regime de apoio às
deslocações dos deputados em geral."Abrindo-se
um processo de olhar para esta matéria a propósito desta situação, não
se pode deixar de ter em conta que todos os deputados, residam nas
regiões autónomas, no território do continente, devem ter um regime
adequado, claro, que não gere dúvidas de interpretação quer na
Assembleia quer junto da população", declarou.Para
o PS, "alguns dos problemas que estão identificados em relação aos
residentes das regiões autónomas são exatamente os mesmos que se colocam
a outros pontos do país e a outras formas de transporte".O
parecer da subcomissão de Ética concluiu que os abonos dos deputados da
Madeira e dos Açores têm a natureza de um subsídio e são distintos dos
apoios às viagens dos deputados que vivem em território nacional, propõe
que o valor de referência "deve ser o da taxa máxima de esforço
legalmente fixada para residentes" e aponta vários caminhos para uma
eventual alteração da forma de atribuição.A
subcomissão de Ética considera que uma "eventual opção pelo suporte
direto pelos serviços dos custos relativos às passagens de avião,
semelhante ao regime vigente para os deputados eleitos pelos círculos
fora do território nacional, teria de acautelar um tratamento
personalizado, deputado a deputado, por forma a serem respeitadas as
exigências diferenciadas dos calendários e dos horários de envolvimento
político-parlamentar de cada deputado".O
presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, pediu à
subcomissão de Ética e à comissão eventual da Transparência uma
interpretação conjugada da resolução do parlamento que regula os apoios
às viagens dos deputados das regiões autónomas e da legislação do
subsídio de mobilidade de todos os residentes insulares, bem como que se
pronunciassem sobre uma eventual necessidade de alteração legal.O
pedido de Ferro Rodrigues foi feito na sequência de uma notícia do
semanário Expresso, segundo a qual os deputados dos círculos eleitorais
das regiões autónomas dos Açores e da Madeira beneficiam da duplicação
de apoios estatais ao transporte entre o continente e as ilhas.Deputados
eleitos por aqueles círculos, além de disporem de 500 euros semanais
fixos para eventuais deslocações, optariam por gozar do subsídio de
mobilidade concedido a todos os residentes insulares, mediante um
sistema de reembolso das passagens de avião.Esta
notícia levou a um pedido de desculpa e à renúncia ao mandato do
deputado BE eleito pela Madeira Paulino Ascenção. Pelo PS, estarão nesta
situação o líder da bancada socialista, Carlos César, e os deputados
Lara Martinho, João Azevedo Castro, Luís Vilhena e Carlos Pereira, e,
pelo PSD, parlamentares como Berta Cabral, Costa Neves, Sara Madruga da
Costa e Paulo Neves.