"Sou presidente do Fundo de Resolução, não o Sherlock Holmes"
Novo Banco
16 de set. de 2020, 14:42
— Lusa/AO Online
"Nós não temos indícios
[de vendas a partes relacionadas] e bem nos esforçamos por isso. Agora,
devo dizer, sou o presidente do Fundo de Resolução, não sou o Sherlock
Holmes”, disse Máximo dos Santos aos deputados da comissão de orçamento e
finanças.A frase do presidente do Fundo
de Resolução (e também vice-governador do Banco de Portugal) foi
proferida a propósito de perguntas sobre se tem confirmação de que as
vendas de ativos (imóveis e crédito malparado) do Novo Banco não foram
feitas a entidades relacionadas com o acionista Lone Star (o que é
proibido pelo contrato de venda do Novo Banco, a menos que o Fundo de
Resolução as aprove).Na terça-feira,
também em audição na comissão de orçamento e finanças, o presidente
executivo do Novo Banco disse que são cumpridas as obrigações legais nas
vendas de ativos e que sai da instituição se houver alguma transação
com entidades relacionadas com a Lone Star.“Se
houver alguma transação [com parte relacionada com a Lone Star], no dia
seguinte pode chamar-me aqui na qualidade de ex-presidente do Novo
Banco”, afirmou António Ramalho.Segundo o
gestor, nas vendas de ativos o banco cumpre a lei, sendo que na venda de
carteiras de ativos a sociedades gestoras de fundos de investimento
internacionais foram obtidas declarações de que nenhum dos participantes
detinha mais de 25% das entidades. Nesses casos, pela lei, são
considerados últimos beneficiários efetivos os membros do órgão de
administração da sociedade gestora.António
Ramalho mostrou ainda, aos deputados, um dossiê que disse ser referente
ao Anchorage (o fundo que comprou os imóveis do designado ‘Projeto
Viriato’) com informação do que o Novo Banco fez para encontrar o último
beneficiário.No final de julho, o Público
noticiou que entre os investidores da Anchorage estão entidades
registadas nas ilhas Caimão, não se sabendo quem são os verdadeiros
donos.O relatório da auditoria da Deloitte
ao Novo Banco, divulgado na semana passada (ainda que expurgado de
partes consideradas confidenciais), indica que foi verificada “a
inexistência de normativos internos para todo o período que regulassem a
realização sistemática de uma análise das entidades compradoras que
participaram em processos de desinvestimento, de forma a concluir acerca
de eventuais riscos de branqueamento de capitais e de conflitos de
interesse”.Das alienações onde esta análise não foi feita, a Deloitte dá como exemplo as vendas do BES Investimento e BES Vénétie (Paris). Segundo
explica a Deloitte, a generalidade das operações foram feitas a
sociedades gestoras de fundos de investimento internacionais, o que pela
lei permite que, se nenhum dos participantes desses fundos tiver 25%
das entidades, são considerados como beneficiários efetivos os gestores
dessas sociedades.No final de julho, a
Lone Star (que desde 2017 detém 75% do Novo Banco) disse que nunca fez
aquisição de ativos do Novo Banco, desde logo imóveis, usando partes
relacionadas.Em comunicado, a Lone Star
recordou que o contrato pelo qual comprou o Novo Banco, em outubro de
2017, “proibiu expressamente a Lone Star ou suas afiliadas de celebrar
qualquer transação ou acordo com o Grupo Novo Banco, exceto se
autorizado pelo Fundo de Resolução” e diz que desde então "cumpriu essas
disposições".