Solidariedade dos portugueses foi "tábua de salvação" para a crise

22 de dez. de 2012, 12:49 — Lusa/AO online

  “Infelizmente reconheço que não estamos em condições para conseguir destacar algo positivo no contexto de tantas dificuldades, de tantas más notícias no nosso país”, lamenta à agência Lusa o presidente da Cáritas. Num ano de más recordações, Eugénio Fonseca realça a “crescente solidariedade” do povo, que “tem sido inexcedível, apesar das constantes austeridades que se têm plantado sobre a sua vida”. “Há gente que tem sido muito penalizada e que está a sofrer pelos sacrifícios que lhe estão a ser pedidos. É óbvio que se não fosse a solidariedade” dos portugueses e das instituições o “sofrimento seria ainda maior”, frisa. Como negativo, aponta a “obsessão que se instalou” para superação da dívida, “pondo em causa as condições elementares da vida das pessoas”. “Tem-se sobrecarregado em demasia os mais vulneráveis para a superação de uma dívida para a qual não contribuíram”, sublinha, considerando que podiam ter sido feitos "mais esforços" para a redimensionar e suavizar os seus encargos. Para o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, o que “correu pior” foi a “brutal” subida do desemprego e o consequente “aumento brutal das pessoas” que pediram ajuda às instituições. O que funcionou melhor foi a solidariedade dos portugueses. Foram a “grande almofada social desse drama que é o desemprego e o aumento brutal da pobreza e da exclusão”, sublinha. Outros fatores negativos apontados por Manuel Lemos prendem-se com o aumento da pobreza e da depressão dos portugueses, que estão “tristes e infelizes”. Também o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Social teve dificuldades em encontrar aspetos positivos, mas realçou a procura de soluções que tornem “menos onerosos os serviços” prestados pelas instituições. Para o padre Lino Maia, as instituições têm tido “uma grande capacidade de resiliência”. “As dificuldades têm sido notórias, há mais gente, e mais pobre, a recorrer às instituições”, ao mesmo tempo que têm “diminuído muito significativamente” os seus recursos devido à redução das comparticipações dos utentes e da comunidade. Lino Maia lamenta o “desemprego galopante” e as dificuldades das famílias: “Mesmo as pessoas que estão empregadas estão a perder as suas capacidades para satisfazer os seus compromissos e isto reflete-se na vida das instituições”. Para Eugénio Fonseca, a “grande virtude” da superação da crise estaria na recuperação dos postos de trabalho, mas o modelo económico “está a demonstrar que é altamente deficitário”, porque “serve mais o lucro e o capital do que as pessoas”. Este modelo deve ser substituído por outro que "junte ao crescimento económico a dimensão humana" e "não seja o lucro e a competição desenfreada a comandar a vida das sociedades". Eugénio Fonseca diz que têm sido feitos alguns investimentos em apoios sociais, como o Plano de Emergência Social, mas que "ficou muito aquém das necessidades com que as pessoas se confrontam neste momento”.