Sócrates requer à juíza esclarecimentos sobre prescrição de crimes
Operação Marquês
Hoje 13:15
— Lusa/AO Online
No
requerimento enviado à juíza Susana Seca, a que a agência Lusa teve
acesso, José Sócrates baseia-se em notícias difundidas em vários órgãos
de comunicação social para alegar que o tribunal transmitiu informação
sobre os prazos de prescrição de crimes que “nunca foram discutidas em
audiência de julgamento nem nunca foram colocadas em discussão por
qualquer das partes”.Em causa estão,
nomeadamente, crimes de corrupção passiva e corrupção ativa ligados ao
universo Vale de Lobo, e que podem prescrever no primeiro semestre de
2026, esclarecimento prestado pelo tribunal através do Conselho Superior
da Magistratura (CSM), e que Sócrates alega estar a interferir de forma
ilegal no processo.“Esta notícia e esta
informação vêm confirmar o escândalo que há muito denuncio – este
processo penal é ilegalmente tutelado por um grupo de trabalho do órgão
administrativo a quem compete fazer a gestão da carreira dos juízes. É
absolutamente indecente que o tribunal se sinta obrigado e reportar a
quem quer que seja sobre o andamento do processo. Esse facto põe em
causa a independência do tribunal”, argumentou.Perante
isto, o antigo primeiro-ministro e principal arguido na ‘Operação
Marquês’, requereu ao tribunal que o referido esclarecimento prestado ao
CSM lhe seja remetido, “bem como toda a correspondência anterior (ou
interações orais) entre o tribunal e o Conselho”, acrescentando: “A bem
da publicidade do processo”.Na longa
exposição remetida a Susana Seca, Sócrates critica ainda que a juíza
presidente do julgamento tenha qualificado como “manobras dilatórias” a
renúncia do seu advogado desde o início do processo, Pedro Delille,
afirmando que o maior prejudicado com essa decisão é ele próprio.“Sou alheio à decisão do meu advogado, que me acompanhou ao longo deste penoso e infamante processo”, afirmou Sócrates.“Perco,
com a saída do meu advogado, um conhecimento inigualável do processo,
que é difícil substituir. Ele e a senhora juíza saberão melhor o que
terá ocorrido dentro daquela sala de audiências para motivar tal
atitude. Mas não há, para mim, qualquer dúvida do seguinte: o principal
penalizado pelo ocorrido sou eu. Para mim, nada disto é uma
brincadeira”, acrescentou.O antigo
governante manifestou-se ciente de que essas alegações decorrem do prazo
que o advogado que venha a nomear para o representar vai precisar para
se pôr ao corrente do processo, um dos maiores da história judicial
portuguesa, e deixou uma garantia: “Tudo farei para escolher um advogado
que tenha condições para iniciar a minha defesa o mais rápido
possível”.A 11 de novembro passado, o
tribunal de julgamento informou que os crimes de corrupção imputados ao
antigo primeiro-ministro e outros três arguidos pelo financiamento da
Caixa Geral de Depósitos (CGD) a Vale do Lobo poderão prescrever no
primeiro semestre de 2026.O Ministério
Público acredita que o antigo primeiro-ministro (2005-2011) e o
ex-ministro socialista e ex-administrador da CGD Armando Vara terão sido
subornados num total de dois milhões de euros por Rui Horta e Costa e
Diogo Gaspar Ferreira para beneficiar, a partir de 2006, o 'resort'
algarvio.A imputação baseia-se no
pressuposto de que Vara foi, no final de 2005, nomeado para a
administração da CGD por indicação de José Sócrates.O crédito concedido a Vale do Lobo foi superior a 200 milhões de euros e foi mais tarde considerado ruinoso.O
ex-governante e os dois ex-administradores de Vale do Lobo negaram a
acusação durante o julgamento, enquanto Armando Vara se remeteu, para
já, ao silêncio.No total, José Sócrates,
de 68 anos, responde por 22 crimes: três de corrupção, 13 de
branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal qualificada.O
processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos
117 crimes económico-financeiros que globalmente lhes são imputados.O
julgamento decorre desde 03 de julho no Tribunal Central Criminal de
Lisboa e foi interrompido até pelo menos 04 de dezembro, quando ainda
faltam ouvir mais de uma centena de testemunhas.