Só passou a cerca de Rabo de Peixe quem apresentou uma declaração
Covid-19
3 de dez. de 2020, 16:15
— Lusa/AO Online
Foi o caso
de Márcia Pereira, que vive na freguesia com mais casos de Covid-19 nos
Açores, mas que trabalha na Casa do Povo da
Ribeira Grande.“Eu preciso de ir
trabalhar, já tenho aqui a declaração da entidade patronal e, por isso,
acho que consigo passar”, disse à Lusa antes de se aproximar da cerca
sanitária na zona de Santana.Quando chegou
à beira dos agentes da autoridade, que estão a estabelecer as
fronteiras em vários acessos a Rabo de Peixe, foi-lhe permitida a
passagem, mediante a apresentação da declaração.Ao
contrário do que aconteceu em abril, quando todos os concelhos de São
Miguel estiveram sob cordões sanitários, não existem barreiras físicas a
controlar as entradas e saídas de Rabo de Peixe, mas em todos os
acessos existe uma equipa da Polícia de Segurança Pública (PSP)
acompanhada por outros funcionários operacionais.Quem
também conseguiu sair de Rabo de Peixe foi a carrinha conduzida por
Dionísio Medeiros, da empresa Lactaçor, que foi àquela vila piscatória
abastecer os supermercados locais de queijo e leite.“Já me deixaram entrar e agora deixaram-me sair. Isto é a nossa vida, tem de ser”, comentou.O
acesso a cuidados médicos também se inclui entre as exceções previstas,
pelo que Maria (que não quis revelar o último nome) também conseguiu
circular para ir a uma consulta na Ribeira Grande.“Eu já vim precavida e trouxe o papel. Já tenho essa consulta marcada há algum tempo”, disse.Menos
sorte teve Stefano. O turista, acabado de chegar à ilha, queria ir
conhecer Rabo de Peixe, mas não teve outro remédio senão voltar a Ponta
Delgada.“Cheguei agora a São Miguel e só
queria ir ver a freguesia. Não sabia o que se estava a passar”, comentou
o italiano, residente na Ericeira.Eduardo
Fonseca também não conseguiu sair de Rabo de Peixe, apesar de ter
tentado demover os agentes da autoridade com a justificação de que
apenas queria ir “uns quilómetros mais acima”, para a zona da Boavista,
onde trabalha.“Sou de Rabo de Peixe, mas
trabalho aqui mais acima, na zona da Boavista. Sou mecânico de
automóvel, não tenho declaração, mas não sei se vou ter sorte”, declarou
à Lusa, antes de chegar perto da PSP.Após
ter sido impedido de atravessar a cerca sanitária, Eduardo Fonseca
criticou a medida que isola Rabo de Peixe da restante ilha.“Acho
que a cerca é exagerada, desde que as pessoas tivessem cuidado, não era
preciso nada disso. Isso cria um grande transtorno para quem trabalha.
Não havia necessidade, não estamos numa situação extrema”, afirmou.No
centro da vila de Rabo de Peixe, a maior parte das pessoas
encontrava-se de máscara. Muitas estavam a conversar em bancos de
jardins, apesar de a circulação na via pública estar limitada a passeios
higiénicos ou para passear o animal de estimação.Vários
cidadãos encontravam-se também em alguns cafés, que podem funcionar até
um terço da lotação. A agência Lusa encontrou patrulhas da PSP a
circular pela freguesia a alertar para o cumprimento das normas
sanitárias.Hoje, o comando regional da PSP
nos Açores, informou, em comunicado de imprensa, que a cerca sanitária
iria ser “concretizada através de pontos de fiscalização e controlo
policial”, sendo, também, “utilizadas várias barreiras físicas que
delimitam toda a área da vila de Rabo de Peixe”.“A
atuação da Polícia de Segurança Pública incidirá numa intervenção
pedagógica e sensibilizadora da comunidade quanto à interdição das
deslocações que não sejam justificadas”, acrescentou a PSP.Na
terça-feira, o Governo dos Açores anunciou a criação de uma cerca
sanitária a Rabo de Peixe, seguida da realização de testes rápidos a
todos os cerca de dez mil habitantes da freguesia.