Sistema tecnológico de baixo custo vai “democratizar” a investigação do mar profundo
8 de jul. de 2021, 11:53
— Lusa/AO Online
Esta ferramenta é “construída
com componentes de uso comum”, sendo, por isso, uma tecnologia “eficaz,
de baixo custo, de simples montagem e fácil operabilidade, resiliente,
operacional e confiável, para exploração do mar profundo até aos mil
metros de profundidade”, explicava o Observatório do Mar dos Açores, em
nota de imprensa.O projeto do Instituto de
Investigação em Ciências do Mar – Okeanos, da Universidade dos Açores
foi apresentado numa sessão organizada em parceria com o
Observatório do Mar dos Açores (OMA), que decorreu na cidade da Horta,
ilha do Faial, com transmissão online.“A
‘Azor drift-cam’ tem o potencial de tornar a exploração do mar profundo
mais democrática e acessível para muitos”, explica o OMA, acrescentando
que “o sistema não pretende substituir as plataformas de vídeo e
fotografia subaquáticas mais sofisticadas”, mas sim “fornecer os meios
para realizar avaliações rápidas de habitats bentónicos do mar
profundo”.O projeto nasceu da necessidade
de fazer cumprir a agenda de investigação do Okeanos – conhecer todos os
elementos topográficos da Zona Económica Exclusiva (ZEE) dos Açores até
aos 1.000 metros de profundidade –, que dependia da disponibilidade de
recursos escassos e muito caros.Este
equipamento tem vindo a ser testado no mar dos Açores, com 250 mergulhos
em dois anos, “que correspondem a 140 quilómetros de fundo e 185 horas
de imagem”, adiantou Carlos Dominguez-Carrió, um dos criadores do
sistema, e “permitiu fazer uma exploração de larga escala dos montes
submarinos e das estruturas geomorfológicas da ZEE dos Açores”, explicou
o investigador do Okeanos Telmo Morato.Morato
realçou a “oportunidade que este sistema deu para explorar zonas que,
de outra forma, não se veriam” e adiantou que os “Açores terão uma das
maiores reservas de esponjas e de corais do mundo, certamente uma das
maiores do Atlântico Norte”.A ferramenta
tem um custo total inferior a 15 mil euros e consiste em duas câmaras,
que filmam em 4K e HD, dentro de uma estrutura oval, que permite retirar
o instrumento mais facilmente se este ficar preso em redes de pesca, e
que deve incorporar também duas luzes com bateria interna e uma fita de
LED, para iluminar a escuridão do mar profundo.Tem ainda dois lasers e um leme, que garante a estabilidade do aparelho, explicou Carlos Dominguez-Carrió.O
intuito é “democratizar a investigação”, destacou Telmo Morato,
acrescentando que a equipa irá partilhar com a comunidade científica um
“livro de receitas que explica que partes compõem este instrumento, como
devem ser montadas e como devem ser operadas”.A
‘Azor drift-cam’ tem uma “configuração fácil de montar, barata, fácil
de reparar, que se consegue reparar em qualquer parte do mundo, e que se
consegue operar a partir de cada navio, seja de médio ou pequeno
porte”, como embarcações de pesca, prosseguiu.Para
o atual ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, “um dos pioneiros na
investigação do mar profundo” dos Açores, como frisou Telmo Morato, esta
ferramenta demonstra que “é possível explorar o tempestuoso mar
profundo, na acentuada Crista Média Atlântica, com imaginação,
conhecimento e capacidade”.Também a
oceanógrafa Sylvia Earle saludou a “genial abordagem para explorar o
oceano” e sublinhou que os Açores, que se juntam a outros cerca de 130
sítios no mundo que foram considerados ‘hope spots’ para os oceanos são
pioneiros por estarem “a oferecer proteção total às criaturas do mar –
que conceito!”, exclamou.