Sindicatos dos professores dos Açores contra aulas de apoio nas férias
12 de dez. de 2018, 10:01
— Lusa/AO Online
Segundo a proposta
de alteração ao Estatuto do Aluno, apresentada pelo PS e aprovada com
os votos favoráveis de PS, PCP e BE, os estudantes do ensino básico e
secundário passam a ter direito a "usufruir, em parte do período de
interrupção letiva, de um plano de recuperação de aprendizagens”.O
plano será “aprovado pelo Conselho de Turma, sob proposta do docente
que propôs o nível negativo na avaliação sumativa interna que antecedeu o
período de interrupção letiva”, para que os alunos adquirem ou
consolidem “aprendizagens manifestamente em falta”, sendo que aquele
deve ser cumprido “presencialmente nas instalações escolares".Para
o presidente do Sindicato Democrático dos Professores dos Açores
(SDPA), o propósito da medida é “interessante”, mas a aplicação na
prática pode gerar “estigma social”. “Levar
alunos para a escola em período de interrupção letiva não nos parece
que seja a forma mais adequada”, adiantou, em declarações aos
jornalistas, José Pedro Gaspar, alegando que a medida pode criar “um
estigma social perante os alunos e as suas famílias”.O sindicalista considerou que a medida não irá resultar e defendeu que deverá ser “reequacionada e redimensionada”. “Esse aluno não vai ter predisposição, provavelmente, para estar na escola, para aprender, para estar concentrado”, salientou. Também
o presidente do Sindicato dos Professores da Região Açores (SPRA),
António Lucas, disse ter dúvidas de que a iniciativa funcione “em termos
práticos”.“Acho
que isto não vai funcionar. Admito que a adesão por parte dos alunos e
dos pais seja muito reduzida”, afirmou, em declarações à Lusa.António
Lucas sublinhou que o acompanhamento dos alunos em risco de chumbar e a
criação de planos de recuperação não é uma novidade e está prevista na
legislação há cerca de duas décadas. “Quando
se faz a reunião do primeiro período e se vê que há alunos em risco de
serem retidos, os professores do Conselho de Turma devem fazer um plano
de recuperação do aluno. Isso inclui as estratégias que o Conselho de
Turma achar mais adequadas”, apontou.O
sindicalista acrescentou que a lei também prevê que os professores
façam reforço e tirem dúvidas aos alunos que vão a exame, “depois de
acabarem as aulas”, mas admitiu não conhecer casos de aulas de apoio
dadas nas férias de Natal ou da Páscoa.“Então
agora o aluno só tem direito a apoio nas interrupções letivas? Já não
tem direito ao apoio no resto do ano? A mim parece-me que isto foi uma
coisa feita um pouco apressada. Tem incongruências”, frisou,
acrescentando que estas mudanças devem ser propostas no fim do ano
letivo para que se preparem no ano letivo seguinte.A
alteração ao Estatuto do Aluno também não mereceu a concordância do
secretário Regional da Educação e Cultura, do executivo suportado pelo
PS.Avelino
Meneses remeteu a sua aplicação para o próximo ano letivo, de forma a
permitir que o Governo Regional tenha "mais tempo" para analisar as suas
"implicações"."Depois
de ter verificado esta proposta, vamos ter de ter muito cuidado na sua
aplicação, porque mexe com o sistema educativo na sua globalidade, com
professores, com estudantes, eventualmente com famílias. Julgo que não
deveremos fazer uma aplicação imediata, ou seja, no decurso deste ano
letivo, que já vai quase no fim do primeiro período", salientou Avelino
Meneses, admitindo "introduzir algumas alterações" à proposta nos
próximos planos e orçamentos da região.