Sindicatos divididos quanto à semana de trabalho de quatro dias nos Açores
18 de dez. de 2024, 10:05
— Lusa/AO Online
“A
eventual adoção por parte de alguns serviços públicos desta medida, com
redução do período normal de trabalho, a não ser aplicada a todos os
serviços públicos gera desigualdades entre trabalhadores, o que pode
ferir a legalidade da legislação”, advertiu João Decq Mota, dirigente da
CGTP - Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, durante uma
audição na comissão de Política Geral do parlamento açoriano, reunida em
Ponta Delgada.Ouvido a propósito de uma
proposta do deputado único do BE, António Lima, que defende a
implementação na região da semana de trabalho de quatro dias, tanto no
setor público, como no setor privado, sem perda de rendimento para os
trabalhadores, o sindicalista deixou ainda um alerta.“Não
baste referir [na legislação] que é sem diminuição da retribuição, é
preciso acrescentar ‘sem perda ou diminuição de qualquer remuneração,
seja de salário, subsídio de refeição, de turno, de abono para falhas ou
outro que o trabalhador aufere regularmente’”, insistiu João Decq Mota.Em
sentido contrário, Manuel Pavão, presidente da UGT/Açores - União Geral
dos Trabalhadores, também ouvido pelos deputados, reconheceu as
vantagens da semana de trabalho de quatro dias, embora admitindo que
será uma medida de difícil aplicação em alguns setores de atividade.“Não
é suscetível de uma fácil aplicação em todos os setores de atividade. A
ser aplicada, será apenas em determinados setores. Mas, de qualquer
forma, dadas as vantagens que pode trazer, sobretudo para os
trabalhadores e para algumas empresas, acho que é uma modalidade que
pode ser implementada”, referiu Manuel Pavão.Opinião
semelhante manifestou Pedro Gomes, coordenador do projeto-piloto
nacional da semana de quatro dias, ouvido também na comissão de Política
Geral da Assembleia Legislativa dos Açores, que defendeu que o
arquipélago está em condições de implementar a iniciativa.“É
preciso mudança e eu acho que a semana de quatro dias oferece esse meio
caminho. Não acho que seja de esquerda ou de direita. Acho que, se
trabalharmos em conjunto, podemos conseguir uma melhoria enorme na vida
das pessoas, sem prejudicar a economia”, salientou Pedro Gomes.Segundo
explicou, existem várias vantagens para os trabalhadores na adoção de
uma jornada semanal de trabalho de apenas quatro dias, desde logo por
permitir que tenham “mais tempo para fazer o que quiserem”, como também
contribuir para a redução do “stress laboral”, além de potenciar um
“aumento da produtividade” e uma redução de custos para as empresas.“Em
muito setores, acho que se consegue implementar a semana de quatro dias
sem custos adicionais de contratação”, realçou Pedro Gomes,
acrescentando que, nos setores onde é necessário reforçar os recursos
humanos, tudo vai depender “da questão quantitativa”.“Se me disserem que é preciso contratar mais 25% de trabalhadores, eu digo que isso não é realista, não o façam”, salientou.O Governo Regional dos Açores já anunciou a intenção de implementar um projeto semelhante na Administração Pública Regional.