Sindicato vai processar Ryanair por assédio laboral e discriminação
12 de ago. de 2020, 16:32
— Lusa/AO Online
"Um dos
processos com que vamos avançar já no imediato será um processo contra a
empresa Ryanair, de assédio e discriminação", disse à Lusa Diogo Dias,
vogal do SNPVAC, referindo-se a um processo relacionado com os
trabalhadores que não aceitaram os cortes impostos pela empresa.A
Ryanair desregulou o regime de escalas habitual à “pequena minoria” de
trabalhadores que recusou os cortes da empresa na sequência da pandemia
de covid-19, retirando-lhes qualquer direito a bónus, segundo documentos
a que a Lusa teve acesso.Segundo o
dirigente sindical, os trabalhadores "a sofrer uma discriminação
gravíssima, onde lhes retiraram o padrão do ‘roster’ [escala]", estando
"a voar menos de 10 horas, quando o normal seria entre 70 a 80", não
acontecendo o mesmo com quem assinou os cortes.De
acordo com o responsável, "imediatamente a seguir" será interposta uma
ação em tribunal pelos trabalhadores que recusaram assinar contratos com
remuneração base inferior ao salário mínimo, e que a empresa obrigava a
transferir para bases no estrangeiro.Mais
de 30 trabalhadores da Crewlink, que tripulam os aviões da Ryanair,
estão a ser convidados para os quadros da companhia com remunerações
base abaixo do salário mínimo, tendo como alternativa a relocalização no
estrangeiro já em setembro.O contrato
proposto possui adicionalmente uma cláusula em que o trabalhador declara
“não ter quaisquer reclamações/créditos contra a empresa” à data de 01
de setembro de 2020.O dirigente do SNPVAC
disse à Lusa que "todos os tripulantes" que recusaram a proposta "estão a
resolver com justa causa o contrato, depois desta transferência que
lhes está a ser oferecida", adiantando que irão avançar "com um processo
coletivo contra a empresa não só para a reintegração na empresa
Ryanair", como também serão pedidos "os créditos laborais, como por
exemplo o subsídio de Natal e o subsídio de férias"."A
Ryanair e a Crewlink, desde que estão em Portugal, nunca pagaram
subsídios de Natal e subsídios de férias", disse Diogo Dias,
acrescentando que o Governo e os grupos parlamentares já foram alertados
para a situação, mas que "a única solução é realmente a via judicial,
não há outra maneira".O sindicalista
denunciou ainda que os valores pagos por hora de voo não são
uniformizados, "ou seja, há o tripulante que ganha X, outro que ganha
Y", algo cujo diferencial salarial também será reivindicado pelos
trabalhadores.Questionado por que motivo o
processo será movido sempre contra a Ryanair e não contra a Crewlink, o
dirigente do SNPVAC detalhou que, "no entender dos advogados do
sindicato, a Crewlink é uma empresa fachada da Ryanair", por se tratar
de "uma empresa de trabalho temporário onde o seu único cliente é a
Ryanair", além de não ser "bem trabalho temporário"."Nós
deveríamos trabalhar dois anos para a empresa Crewlink - trabalho
temporário - e após esses dois anos seríamos Ryanair. Se um trabalhador
está há 10 anos na empresa, se quiser reclamar créditos laborais, os
primeiros dois anos serão à empresa Crewlink, os oito anos seguintes já
serão à empresa Ryanair", referiu Diogo Dias.A
Lusa questionou ainda o sindicalista acerca do não pagamento dos
salários de março deste ano, e o dirigente do SNPVAC referiu que esse
montante "vai entrar como crédito laboral" no segundo processo judicial.A
Crewlink, empresa de tripulantes de voo cujo único cliente é a Ryanair,
aderiu ao regime de ‘lay-off’ simplificado em abril, mas ainda não
pagou os salários de março, segundo documentação a que a Lusa teve
acesso."O que a empresa fez com a pandemia
foi um aproveitamento brutal para não só legalizar os contratos daqui
para a frente, como para fazer cortes salariais brutais", disse à Lusa o
dirigente, falando em cortes de quase 50% para os trabalhadores da
Crewlink.O sindicalista afirmou que
perante a probabilidade de perder processos, a Ryanair tem estado a
"chegar a acordo com os trabalhadores para não ter uma sentença final"
contra si, usando depois o argumento de que "nunca perdeu uma ação",
porque "chega sempre a acordo com o trabalhador e paga sempre acima do
que o trabalhador está a pedir"."Isto é
uma prática recorrente, sempre foi assim. Já aconteceu no ano passado
com os despedimentos na base de Faro, foi um despedimento coletivo,
também, foi a primeira base onde fecharam os Crewlinks, e ainda não
perderam nenhum caso em tribunal porque têm chegado sempre a acordo com
os tripulantes", referiu Diogo Dias.O
sindicalista referiu ainda que "há muitos tripulantes portugueses
espalhados pela Europa" com vontade de regressar, a quem a Ryanair está a
oferecer o contrato com remuneração base abaixo do salário mínimo, mas
que, por estarem "cansados de estar no estrangeiro também a ganhar
precariamente", acabam por voltar nessas condições.