Sindicato sai de reunião com ministra da Cultura sem certezas ou garantias
Covid-19
5 de mai. de 2020, 18:38
— Lusa/AO Online
“Saímos da
reunião sem qualquer certeza e com muito poucas garantias. A garantia
que temos é que vamos ter que continuar a fazer pressão sobre a ministra
da Cultura, sobre o Governo e sobre o Ministério do Trabalho para ter
algumas destas medidas urgentes cá fora, porque elas vão continuar a ser
urgentes nos próximos meses e a cada dia que passa vão ser cada vez
mais urgentes”, afirmou Rui Galveias, da direção do CENA-STE, em
declarações à Lusa, no final de uma reunião com a ministra Graça
Fonseca, em Lisboa.Esta reunião esteve
inicialmente marcada para quinta-feira da semana passada e, nesse dia, o
CENA-STE decidiu divulgar um pacote de medidas de “emergência, retoma e
reforma” do setor, para aplicação “a curto, médio e longo prazo durante
os próximos dois anos”, apresentado hoje à ministra.Rui
Galveias salientou que o setor está a viver uma realidade de que não há
memória: “nem no período mais violento da ‘troika’ foi assim”.“Tendo
em conta as características do meio e dos trabalhadores que têm uma
forte expressão precária, de orquestras regionais, a trabalhadores de
festivais, a muita gente que acompanha as companhias de teatro do
Interior do país, técnicos, profissionais e atores, todas estas pessoas,
neste momento, têm a vida em suspenso”, referiu.Segundo o sindicalista, têm surgido “grupos informais, para poderem cuidar uns dos outros”.“Felizmente
há solidariedade no setor”, afirmou, alertando que “há muita gente a
distribuir cabazes de comida e a dar dinheiro a colegas de trabalho”.
“Estamos nesta base”, disse.A reunião de hoje com a ministra da Cultura “pode ser dividida em duas metades”.“Uma
parte foi sobre medidas para o futuro, que tem que ver com a avaliação
do setor, uma regulamentação e uma legislação diferente para o setor,
para proteger os trabalhadores do setor”, contou.Da
parte do Ministério da Cultura, segundo o sindicato, “há abertura para
esse trabalho e para essa discussão, houve trabalho desenvolvido e há
trabalho futuro”.Já na parte relativa às “medidas de emergência”, aquilo que o CENA-STE tinha “como mais importante agora, não saiu quase nada”.“Saiu
apenas a consciência de que, pelo que nós percebemos, as medidas
transversais de que tanto se tem falado não estão a chegar à maior parte
dos trabalhadores do setor, como não chega a outros trabalhadores na
mesma situação na sociedade”, afirmou Rui Galveias.Num
setor “muito marcado pela precariedade, essas medidas de emergência,
que seriam fundamentais, porque as pessoas têm que pagar as contas hoje e
comer amanhã, não estão a chegar”.O apoio aos trabalhadores independentes, alertou o sindicalista, “chega de forma insuficiente, chega com contradições”. “Recebe
um dinheiro, o apoio do IAS [Indexante dos Apoios Sociais] na ordem os
100, 120, 200 euros, e também se recebe a Segurança Social para pagar,
na ordem dos 80, 90 euros”, exemplificou, alertando haver “uma série de
problemas que não estão a ser resolvidos, que são os mais urgentes”.Segundo
Rui Galveias, a ministra da Cultura “ouviu” as preocupações, “mas
depois devia haver uma ação, quer do Ministério do Trabalho, quer do
Ministério da Cultura, para intervir sobre estes temas”.“O
Governo fala em quase três mil milhões de euros investidos na Economia,
mas o problema é que esse dinheiro e essas medidas, muitas bem-vindas,
não estão a chegar aos trabalhadores do nosso setor”, disse.O CENA-STE pediu também uma reunião com a ministra do ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, “mas até agora não foi marcada”.O
caderno reivindicativo do CENA-STE apresenta dezenas de medidas a
aplicar em vários tempos, desde a curto prazo, para acautelar as
necessidades imediatas dos trabalhadores da cultura, uma vez que a
atividade cultural praticamente paralisou por causa da covid-19, a longo
prazo, dada a precariedade já denunciada do setor.Entre
as medidas a curto prazo, está a equiparação do apoio extraordinário a
um mínimo de 635 euros, um desagravamento fiscal e uma isenção ou
redução das obrigações à Segurança Social.O
CENA-STE quer ainda que os apoios já anunciados para os trabalhadores
independentes sejam mesmo estendidos “aos mais vulneráveis”, como por
exemplo os “trabalhadores das frentes de sala dos equipamentos públicos,
que foram imediatamente dispensados” ou os que têm dívidas à Segurança
Social.As medidas de retoma incluem, entre
outras, a criação de um “cartão-cultura” para que cada português gaste
um valor mensal em cultura e espetáculos e a revisão das condições de
apoio à internacionalização, por causa das limitações de circulação de
artistas fora do país.A longo prazo, o
CENA-STE quer que passe a ser obrigatório e seja uniformizada a
existência de contratos “em todos os projetos com subvenções públicas”,
seja de curta ou longa duração.É ainda
pedido um “levantamento exaustivo do tecido cultural existente para
“diagnosticar necessidades específicas de regiões ou comunidades”.Segundo
o CENA-STE, este caderno reivindicativo foi desenhado com base nos
resultados do inquérito feito ao setor, já durante o estado de
emergência por causa da pandemia da covid-19, e em “diálogo com
estruturas culturais e grupos informais de defesa da cultura”.O
inquérito revela que 98% dos trabalhadores inquiridos tiveram trabalho
cancelado por causa das medidas restritivas para conter a pandemia.Em
termos financeiros, para as 1.300 pessoas que responderam ao
questionário, as perdas por trabalhos cancelados representam ainda dois
milhões de euros, apenas para o período de março a maio deste ano, de
acordo com o CENA-STE (o que indica a perda de um valor médio de
receita, por trabalhador, de cerca de 1.500 euros).