Sindicato reivindica acesso dos trabalhadores à justiça
Lajes
8 de mai. de 2019, 18:31
— Lusa/AO Online
“Sempre
que existe uma situação de conflito existe um processo de queixa
extremamente complicado, que se arrasta ao longo de anos e que impede um
cidadão português de ter direito a um acesso que é fundamental, que é o
acesso à justiça, que está consagrado na Constituição da República
Portuguesa”, afirmou, hoje, em conferência de imprensa, o coordenador da
USAH e do Sindicato dos Trabalhadores de Alimentação, Bebidas e
Similares, Comércio, Escritórios e Serviços (SABCES) dos Açores, que
representa trabalhadores da base das Lajes, Vítor Silva.Segundo
o dirigente sindical, se os conflitos laborais não forem resolvidos com
as chefias, os trabalhadores ao serviço das forças armadas dos Estados
Unidos da América (EUA) estacionadas na base das Lajes têm de recorrer a
três níveis de resolução de conflitos estabelecidos no Acordo Laboral –
os comandos português e norte-americano na base das Lajes, a comissão
laboral e a comissão bilateral permanente entre Portugal e os EUA –
antes de poderem levar o caso a tribunal. Além
do processo ter de passar por diferentes entidades, não estão
consagrados prazos de resposta, o que leva a que alguns casos se
arrastem durante anos, como o de um trabalhador despedido em 2016 que
continua a aguardar pela resposta da comissão bilateral. “O
trabalhar está desde 2016 sem ter qualquer compensação financeira. Não
pode receber pela Segurança Social, porque não interpôs a ação judicial
que faria com que ele tivesse direito a este subsídio. A vida das
pessoas é posta em causa desta maneira. Anda-se a brincar com os
trabalhadores”, salientou Vítor Silva, alegando que a comissão bilateral
já se reuniu duas vezes com este caso na agenda sem o discutir. O
dirigente sindical frisou ainda que, por vezes, a comissão bilateral
devolve o processo ao nível inferior (a comissão laboral), o que atrasa
novamente o desfecho, acrescentando que mesmo que o tribunal decida a
favor do trabalhador, a aplicação da decisão depende sempre da comissão
bilateral. “Mesmo que o trabalhador, em
última instância, vença o processo em tribunal, não é garantido que
aquilo que foi decidido pelo tribunal venha a ser aplicado àquele
trabalhador”, sublinhou, admitindo não ter memória de um caso em que a
decisão do tribunal tenha sido aceite pela comissão. A
União de Sindicatos de Angra do Heroísmo vai solicitar reuniões às
forças políticas, à representante da comissão laboral e ao representante
da comissão bilateral para reivindicar uma revisão do acordo laboral,
que integre “a consagração de prazos de resposta”, para que os
trabalhadores possam “recorrer, em tempo útil, às instâncias judiciais”.
Vítor Silva defendeu, no entanto, que os
conflitos deveriam ser analisados apenas pela comissão laboral, composta
por representantes da Inspeção Regional do Trabalho dos Açores e por
técnicos norte-americanos, e não pela comissão bilateral, que se reúne
duas vezes por ano, tendo outros assuntos na agenda.“Nós
temos defendido que este tipo de situação tem de ser resolvido ao nível
da comissão laboral, aliás como defendemos que esta situação não devia
ser acompanhada pelo comando da zona aérea [dos Açores], devia ser
acompanhada diretamente pela Inspeção Regional do Trabalho”, frisou.Segundo
o dirigente sindical, apenas uma minoria dos conflitos chega ao
tribunal, mas muitos trabalhadores têm medo de contestar, sobretudo
desde a redução militar norte-americana, que levou ao despedimento, por
mútuo acordo, de mais de 400 portugueses, em 2015 e 2016. “Se
antes já existia receio e medo, é claro que o receio e o medo
aumentaram significativamente. Os trabalhadores ficaram numa situação
mais fragilizada”, rematou.