Sindicato pede conciliação para negociar contrato coletivo no setor do comércio nos Açores
24 de out. de 2022, 12:53
— Lusa/AO Online
“Estamos
disponíveis para nos sentar, sem ser com a conciliação, mas como nunca
obtivemos essa resposta e como já temos os prazos todos ultrapassados,
permite-nos pedir o processo de conciliação. Vamos utilizar todas as
vias e os meios que temos disponíveis para conseguir o contrato coletivo
de trabalho para os trabalhadores do comércio”, avançou o
coordenador do SITACEHT/Açores, Vítor Silva.O
anúncio surge duas semanas depois de uma manifestação que juntou perto
de uma centena de trabalhadores de supermercados e hipermercados à
porta da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH).Na
altura, os trabalhadores criticaram a proposta de contrato coletivo de
trabalho apresentada pela associação empresarial para as ilhas Terceira,
São Jorge e Graciosa, alegando que era proposto um horário semanal de
60 horas, o pagamento do salário mínimo regional e a possibilidade de
mobilidade dentro da mesma ilha sem compensações.Em
reação, o presidente da CCAH, Marcos Couto, disse ter ficado
surpreendido com a manifestação, acusando o sindicato de não ter
apresentado uma contraproposta.Vítor Silva
alegou, no entanto, que o sindicato pediu uma reunião com a associação
empresarial, para agilizar o processo, mas não obteve resposta.“Enviámos
um ofício a dizer que tínhamos reunido com os nossos associados e que
eles não tinham aceitado de forma nenhuma aquela contraproposta.
Propusemos duas datas para reuniões com a câmara de comércio. Passaram
30 dias e a câmara de comércio voltou a não responder. Não íamos ficar
outra vez mais quatro ou cinco meses à espera”, afirmou.O
sindicalista lembrou que os trabalhadores do comércio das ilhas
Terceira, São Jorge e Graciosa não têm contrato de trabalho “há três
anos” e esperaram “largos meses” para conseguir reunir pela primeira vez
com a câmara de comércio.“Tem de ser
encontrada uma solução. Já basta. Estas pessoas estão à espera há
demasiado tempo e enquanto estão à espera são eles que estão a passar
por dificuldades”, frisou.O sindicato
decidiu agora “pedir conciliação na direção dos serviços do Trabalho” e
admitiu novos protestos se não for assinado um contrato coletivo “que
dignifique quem trabalha nesta área”.“Se
esta situação não for ultrapassada e se não chegarmos a um entendimento
quanto ao contrato coletivo de trabalho, possivelmente os trabalhadores
do comércio voltarão a manifestar-se”, apontou.O
SITACEHT/Açores defendeu também a intervenção política, tendo
solicitado “reuniões de trabalho a todas as forças políticas” e prevendo
pedir reuniões à secretária do Emprego e ao presidente do Governo
Regional (PSD/CDS-PP/PPM).Segundo Vítor
Silva, se não for alcançado um acordo, é possível aplicar nas ilhas
Terceira, São Jorge e Graciosa contratos coletivos aplicados noutros
grupos de ilhas.O sindicalista disse que a
ausência de um contrato coletivo de trabalho “dá muito jeito ao
patrão”, que apresenta contratos individuais que “não dignificam em nada
quem trabalha”.A título de exemplo,
apresentou um contrato, em regime de tempo parcial, de 30 horas
semanais, com um ordenado equivalente a 75% do salário mínimo regional,
mas em que está previsto um alargamento do período de trabalho até 50
horas semanais.“Esta pessoa não é
contratada a tempo parcial, é contratada para desempenhar 40 horas de
trabalho, chegando a fazer por vezes 50 e mais horas, sem que se possa
negar, porque está a contrato”, alertou.O
facto de o vencimento base ser inferior ao salário mínimo permite à
empresa reduzir compensações em caso de despedimento, segundo Vítor
Silva.“Estamos aqui a falar de um contrato que tem condições degradantes”, acusou, classificando-o de “vergonhoso”.