Sindicato justifica baixa adesão à greve na Praia Ambiente com coações aos trabalhadores
5 de ago. de 2019, 12:36
— Lusa/AO Online
“Houve
aqui uma grande insistência em mantê-los e desmobilizá-los,
precisamente porque a administração percebeu que as dificuldades que
muitas vezes se colocam fazem com que estes trabalhadores não tenham
aquela força e determinação, porque todos eles têm bem conhecimento de
quais são os motivos e o que fez com que o sindicato os acompanhasse
esta greve”, denunciou, em declarações aos jornalistas, a dirigente do
STAL de Angra do Heroísmo Benvinda Borges.Os
trabalhadores da empresa municipal Praia Ambiente, responsável pelo
abastecimento de água e pela recolha de resíduos no concelho da Praia da
Vitória, nos Açores, iniciaram hoje uma greve de dois dias, em protesto
contra a proposta de revisão do acordo empresa, aceite por outro
sindicato, que prevê um aumento do salário base, mas a perda da
compensação que recebiam por trabalharem cinco horas por semana a mais
do que os funcionários públicos que também integram a empresa.Às
8h15, o piquete à porta das
instalações da empresa municipal era composto apenas pela dirigente
sindical e por dois funcionários.O serviço
de atendimento ao público abriu mais tarde e, segundo Benvinda Borges,
com funcionários de outras áreas, uma vez que das quatro trabalhadoras
que desempenham estas funções, uma estava de férias e as outras três
aderiram à greve.Quanto à recolha de lixo,
ao início da manhã estava prevista a saída de três camiões, mas saíram
apenas dois, de acordo com a dirigente sindical. “Houve
dois carros que saíram de manhã, sendo um deles conduzido por um
contratado. De facto, a coação a estes trabalhadores foi evidente e
prova disso é que os contratados tiveram mesmo de comparecer e de vir ao
trabalho com receio de não serem renovados os seus contratos”,
salientou.Benvinda Borges admitiu que a
adesão à greve não foi “a que era pretendida”, lembrando que foram os
trabalhadores a decidir convocar esta forma de luta em plenário, mas
acusou a administração da empresa de coagir os funcionários.“Foi
feita queixa à inspeção de trabalho. Eles foram coagidos, foram
contactados por telefone, foram pessoalmente um a um à administração.
Eles jogaram com tudo o que tinham”, frisou.Questionado
pela Lusa, o presidente do conselho de administração da Praia Ambiente,
Tiago Ormonde, disse que “aderiram à greve nove pessoas” e que todos os
serviços estavam a funcionar “normalmente”. O
responsável pela empresa municipal rejeitou, no entanto, que tenha
pressionado os trabalhadores e devolveu a acusação à dirigente sindical,
que disse ter estado várias vezes, durante a semana passada, “à porta
das instalações a tentar convencer as pessoas a aderirem à greve”. “Infelizmente,
já estamos habituados a esse discurso por parte dos sindicatos. Quando
as coisas não correm bem, é porque houve pressão da empresa. Nunca houve
qualquer pressão ou tentativa de influência sobre seja quem for. As
pessoas puderam aderir de forma livre. Se calhar não aderiram porque não
se reviram nessa posição do STAL”, afirmou.Tiago Ormonde reiterou ainda que "sempre houve total abertura da Praia Ambiente para negociar” com o STAL.“O
que foi pedido estava fora de contexto, daí não termos chegado a
acordo, mas sempre houve e sempre haverá total disponibilidade para
sentar à mesa”, referiu.O sindicato
reivindica aumentos salariais e uma equiparação dos direitos dos 64
funcionários da empresa municipal aos direitos da função pública.“Trabalho
igual, salário igual, é o que nós pretendemos, porque os colegas quer
da Câmara Municipal da Praia da Vitória, quer da Câmara Municipal de
Angra do Heroísmo, quer dos serviços municipalizados, a fazer o mesmo
serviço que estes operários, têm um valor salarial diferente”, salientou
a sindicalista.A proposta da
administração da empresa prevê a subida de um escalão, mas as novas
tabelas apresentam um valor base por 40 horas semanais, quando até aqui
os trabalhadores recebiam um complemento pelas cinco horas semanais de
diferença em relação aos funcionários públicos, o que segundo o STAL
equivale a um aumento salarial de 15 cêntimos por hora, numa progressão
feita ao fim de 10 anos.“Aparentemente
quando olhamos para as tabelas verificamos que os salários são um pouco
mais altos do que os funcionários públicos, mas estes aqui fazem as 40
horas e os funcionários públicos fazem 35”, sublinhou.O
STAL, que diz representar dois terços dos trabalhadores da Praia
Ambiente, exige “uma negociação séria” com a empresa municipal, alegando
que teve apenas três reuniões com a administração, entre abril e julho,
e que só na última foi apresentada a proposta de revisão da tabela
salarial.“A negociação nunca foi iniciada,
porque no dia 09 [de julho], quando houve esta reunião com a tabela à
nossa frente, dissemos que íamos fazer plenário com os trabalhadores e
pô-los ao corrente. Nesse mesmo dia, houve já assinatura com outra
estrutura sindical. Eles não tiveram seriedade connosco”, apontou.