Sindicato Independente dos Médicos considera inevitável demissão da ministra da Saúde
30 de ago. de 2022, 08:27
— Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa a propósito da
demissão da ministra da Saúde, Jorge Roque da Cunha disse compreender a
decisão do primeiro-ministro, António Costa, em aceitar o pedido de
Marta Temido.“O Sindicato Independente dos
Médicos nunca exige a demissão de membros do Governo porque isso
compete aos portugueses escolher o primeiro-ministro e ao
primeiro-ministro fazer as suas escolhas, mas na verdade, nos últimos
meses temos assistido a uma dissociação da realidade por parte de Marta
Temido quando no fim de semana passado ainda diz que contrataram
milhares de profissionais de saúde e médicos, não atendendo às
recomendações que a DGS efetuou ao facto de haver 1 milhão e 500 mil
portugueses sem médicos de família, aos problemas permanentes das
urgências de obstetrícia de medicina interna e da incapacidade de
dialogar com os responsáveis do setor”, destacou.De
acordo com Jorge Roque da Cunha, Marta Temido demonstrou também
incapacidade junto do Ministério das Finanças daquilo que foi um aumento
colossal da coleta de impostos verificado este ano para o investimento
no Serviço Nacional de Saúde, que tem sido ao longo dos anos
subfinanciado.“Naturalmente que o acumular
destas questões terá feito com que tenha pedido a demissão e que o
primeiro-ministro tenha aceite”, disse.No
entendimento do presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a
inexperiência política de Marta Temido quando assumiu o cargo, pensando
que as suas ideias só por si iriam mudar o sistema, bem como a falta de
capacidade de reconhecer a terceiros a possibilidade de contribuírem
para melhorar as situações contribuíram para esta demissão. Jorge
Roque da Cunha disse também à Lusa que agora é tempo de pensar no
futuro e acreditar que o primeiro-ministro possa fazer uma escolha mais
acertada para o próximo titular da pasta, que é uma pasta
“extraordinariamente difícil”.“Espero que o
Senhor primeiro-ministro na sua superior capacidade de escolher os
membros do governo tenha em conta [na sua próxima escolha] a capacidade
de decisão e de influência junto do Senhor ministro das Finanças, alguém
que conheça o setor, que tenha a capacidade de diálogo e que não use a
propaganda como principal forma de ultrapassar os problemas”, salientou.
Na opinião de Jorge Roque da Cunha, nos últimos anos o uso da
propaganda como principal forma para ultrapassar os problemas foi a
marca “deste Ministério da Saúde”.“Tentar
ocultar problemas, desvalorizá-los, dizer que estava tudo bem. O que se
pretende agora é uma pessoa com capacidade de dialogo para ultrapassar
alguns dos problemas que temos que são bastantes”, concluiu.A
ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a demissão por
entender que “deixou de ter condições” para exercer o cargo, demissão
que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa.“A
ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao
primeiro-ministro por entender que deixou de ter condições para se
manter no cargo”, dá conta uma nota enviada pelo ministério às redações
na madrugada de hoje.Poucos minutos
depois, um comunicado do gabinete do primeiro-ministro informou que
António Costa “recebeu o pedido de demissão da ministra da Saúde” e que o
aceita. António Costa agradeceu “todo o
trabalho desenvolvido” por Marta Temido, “muito em especial no período
excecional do combate à pandemia da covid-19”.Na
nota divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro acrescenta-se que o
executivo “prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o
SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses”.Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes.Durante
os seus mandatos, Marta Temido esteve no centro da gestão da pandemia,
que começou em 2020, mas também atravessou várias polémicas.
Recentemente, o encerramento dos serviços de urgência de obstetrícia em
vários hospitais por falta de médicos para preencher as escalas
pressionou a tutela.