Sindicato e Governo dos Açores divergem sobre contagem de tempo de serviço dos enfermeiros
24 de set. de 2019, 09:12
— Lusa/AO Online
"É
uma discriminação face ao regime geral da função pública, que teve o
tempo contado nos termos da lei, e face a outras carreiras, que estavam
fora da lei do Orçamento do Estado e que o Governo Regional fez
legislação própria e encontrou uma solução para contar o tempo todo",
adiantou, em declarações aos jornalistas, o coordenador regional do SEP,
Francisco Branco.O sindicalista falava numa conferência de imprensa, à porta da secretaria regional da
Saúde, em Angra do Heroísmo, depois de na semana passada ter reunido
duas vezes com a governante sem ter chegado a um consenso.Segundo
Francisco Branco, a lei do Orçamento do Estado de 2018, que prevê o
descongelamento das carreiras da função pública, impôs regras para a
contagem do tempo de serviço, que levantaram algumas dúvidas jurídicas
sobre a aplicação à carreira de enfermagem.Essas
regras, disse, já foram esclarecidas, mas a atual secretária regional
da Saúde faz uma interpretação diferente da do sindicato."É
correto que se conte 1,5 por cada ano de serviço aos enfermeiros, desde
a sua última mudança de vencimento. Nos Açores, dois terços dos
enfermeiros mudaram de vencimento em 2011, o que quer dizer que de
acordo com as regras clarificadas, os enfermeiros têm de contar tempo a
partir de 2011. Isto é indesmentível, decorre da lei", sublinhou.Acontece
que em 2014 parte dos enfermeiros teve uma valorização salarial, por
via de um acordo assinado em 2013 com o então secretário regional da
Saúde, Luís Cabral, e a atual governante entende que, nestes casos, o
tempo de serviço só deve ser contabilizado a partir dessa data."O
Orçamento do Estado de 2018 é que descongelou as carreiras. De 2011 a
2017, qualquer funcionário da função pública não podia ter
revalorizações remuneratórias", salientou Teresa Machado Luciano,
acrescentando que "contar duplamente não é correto". Francisco
Branco acusou, no entanto, a governante de querer "roubar" 4,5 pontos
aos enfermeiros, que dessa forma veem a progressão na carreira adiada de
2018 para 2021.Segundo o sindicalista, a
governante não sustenta a decisão do ponto de vista legal,
justificando-a com o facto de o acordo assinado com o antigo secretário
regional não ser válido."O Governo vem
sustentar a decisão que toma num acordo feito em 2013, que agora vem
dizer que é supostamente ilegal e feito à revelia do Conselho de
Governo, que o Governo não sabia. Vem por em causa o bom nome de
antecessores titulares da pasta, que para todos os efeitos naquela
altura representavam o Governo", salientou."Isto
é inédito. Em 30 anos de sindicalismo nunca assisti a uma situação
destas. Vir argumentar em questões que são claras e que têm de ser
sustentadas na lei, pondo em causa a idoneidade e o carácter de
políticos anteriores. Isto é completamente absurdo e estranho",
acrescentou.Questionada sobre o acordo
feito pelo antecessor, Teresa Machado Luciano reiterou apenas que as
revalorizações remuneratórias não eram permitidas entre 2011 e 2017 e
que por isso a contagem seria feita a partir de 2014. A
governante garantiu que a tutela está disposta "a conversar e a
negociar o que for possível", mas Francisco Branco acusou a secretária
regional de não ter margem negocial."Não
houve um único avanço. A secretária apresenta-se na primeira reunião,
como se apresenta na segunda. Não houve qualquer perspetiva de avanço
relativamente às nossas reivindicações", apontou.O
sindicato está disponível para negociar um faseamento da contagem, como
aconteceu na Madeira, mas rejeita a eliminação de 4,5 pontos,
referentes ao período entre 2011 e 2013, e admite "manifestações,
concentrações, greves e recurso a tribunal se necessário for".