Sindicato dos tripulantes recusa negociar com Ryanair sobre despedimentos
Covid-19
14 de mai. de 2020, 10:46
— Lusa/AO Online
“O SNPVAC, em conjunto com os outros
sindicatos europeus, irá enviar um documento único para a Ryanair,
refutando toda a argumentação da empresa irlandesa, e recusando qualquer
negociação ou conversa sobre eventuais reduções salarias e/ou de
pessoal, com prejuízo dos seus associados, sem que a companhia aérea
apresente qualquer tipo de estratégia ou tenha em sua posse o real plano
de retoma da atividade e provas concretas que essas reduções são
fundamentais para a sua sobrevivência”, respondeu à Lusa o sindicato.Em
causa estão as declarações do presidente executivo (CEO) da Ryanair,
Eddie Wilson, que admitiu na terça-feira, em entrevista à agência Lusa,
avançar com despedimentos e com a redução da frota em Portugal.O
SNPVAC diz não estar surpreendido com as declarações de Eddie Wilson,
mas reitera que não passará um “cheque em branco à companhia, nem será o
seu bode expiatório” e que, apesar de entender a conjuntura que a
aviação civil vive, "patrocinará qualquer legítima ação sempre que os
seus associados se sintam prejudicados".Os
representantes dos tripulantes lamentam ainda o “’timing’ destas
afirmações, face às recentes notícias relativamente ao pagamento de 1,1
milhões de euros por parte do Governo dos Açores à transportadora aérea
irlandesa para fazer promoção turística da região junto do mercado do
Reino Unido”.O sindicato considera mesmo
as afirmações do CEO da Ryanair "ameaças veladas" para criar "medo e
insegurança" junto dos trabalhadores, bem como uma “afronta” ao país,
tendo em conta que a companhia usufruiu dos apoios extraordinários do
Governo português às empresas, face aos efeitos da pandemia de covid-19
na economia, nomeadamente o ‘lay-off’ simplificado.“Será
necessário esclarecer o presidente Eddie Wilson que existem regras a
cumprir durante e após o período do ‘lay-off’, tais como a proibição de
despedimentos durante 60 dias após o ‘lay-off’ terminar e que todas as
obrigações perante os seus trabalhadores se encontrem regularizadas”,
acrescenta o sindicato.Na terça-feira, a
companhia aérea Ryanair disse estar a reavaliar a sua operação em
Portugal e admitiu avançar com despedimentos e com a redução da frota no
país, medidas que resultam da diminuição acentuada da procura provocada
pela pandemia de covid-19.“Anunciámos há
algumas semanas que iríamos ter de reduzir cerca de 3.000 postos de
trabalho, em cerca de 15 a 16 mil funcionários, e alguns deles,
provavelmente, serão em Portugal, dependendo do número de aeronaves que
lá tivermos [a operar]”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o
presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.No
mesmo dia em que a companhia aérea de baixo custo anunciou a retoma das
suas operações em julho próximo, após mais de três meses com os aviões
parados devido às restrições implementadas pelos países europeus para
conter o surto de covid-19, o responsável frisou que a Ryanair está
agora “a reavaliar as suas operações e a falar com os sindicatos” em
Portugal.“O nosso objetivo é ter acordos
ou uma decisão tomada em breve”, disse Eddie Wilson à Lusa, precisando
que esta decisão será divulgada “nas próximas semanas”.Ainda
assim, de acordo com o responsável, é já certo que “o que vai
determinar esse número [de despedimentos] será o total de aeronaves
baseadas em Portugal”.“Por cada aeronave
que é retirada, são cortados cerca de 10 postos de trabalho de pilotos e
aproximadamente 20 empregos na tripulação de cabine”, exemplificou.Questionado
sobre quais serão as bases portuguesas mais afetadas, Eddie Wilson
indicou que a transportadora aérea baseada em Dublin, na Irlanda, está a
“olhar para tudo”.“Temos uma operação
substancial no Porto, uma operação relativamente pequena em Ponta
Delgada, redimensionámos a operação em Faro, e operamos em Lisboa”,
elencou, sem pormenorizar.A Ryanair
avançou em 01 de abril com o ‘lay-off’ simplificado em Portugal,
considerando o recurso à medida como indispensável para a preservação
dos postos de trabalho no país, de acordo com informação transmitida na
altura aos sindicatos.