Sindicato dos Magistrados do Ministério Público decreta greve para fevereiro
13 de dez. de 2018, 18:22
— Lusa/AO Online
A
decisão foi tomada numa reunião da direção do sindicato, na qual foram
discutidas medidas a tomar face à intenção parlamentar dos dois partidos
que o sindicato considera pôr em causa a autonomia da magistratura
portuguesa através da alteração da composição do Conselho Superior do
Ministério Público (CSMP).Os
moldes em que se vai realizar a paralisação dos magistrados do MP ainda
não foi definida, mas a direção do sindicato decidiu ainda convocar uma
assembleia-geral de delegados sindicais para janeiro para definir
outras formas de luta a longo prazo. Em
comunicado divulgado após a reunião, o sindicato considera que “um
Ministério Público autónomo é um grande incómodo para quem quer atuar à
margem da Lei” e que “a autonomia do Ministério Público e da
investigação criminal são inegociáveis”.Criticando
as declarações dos deputados Jorge Lacão (PS) e Carlos Peixoto (PSD),
que defenderam uma maioria de não magistrados no CSMP, a estrutura
sindical decidiu “decretar uma greve com início em princípios de
fevereiro em moldes a definir e convocar uma assembleia de delegados
sindicais a realizar em janeiro para escrutinar outras formas de luta a
longo prazo”.Foi
também decidido solicitar audiências ao Presidente da República, ao
Provedor de Justiça e aos partidos políticos com assento no parlamento,
“para mostrar os perigos envolvidos na anunciada recomposição do
Conselho Superior do Ministério Público” e “denunciar aos organismos
europeus e internacionais representativos da justiça o ataque político à
autonomia do Ministério Público e o começo do fim do modelo de justiça
independente que advém das propostas do bloco central”. Na
opinião do sindicato, os representantes dos grupos parlamentares do PS e
do PSD estão a defender “o controlo político do Ministério Público, por
intermédio do Conselho Superior do Ministério Público”, considerando
que, caso o órgão passar a ter uma maioria de membros nomeados ou
escolhidos politicamente, “tal permite um controlo absoluto sobre toda a
estrutura hierárquica do Ministério Público, uma vez que os políticos
poderão escolher desde o vice-procurador-geral da República ao
procurador coordenador de comarca”.“Poderão
escolher todos os procuradores que integram as estruturas de
investigação criminal mais relevantes como o DCIAP e os DIAP Distritais,
departamentos onde se efetua a investigação da criminalidade
económico-financeira”, refere o sindicato, acrescentando que os
políticos ficariam com o poder de decidir quais os procuradores que
seriam promovidos ou ocupariam os lugares decisivos no combate à
corrupção. “O
que está em causa neste momento é se a nossa sociedade quer uma
investigação criminal autónoma ou pretende um sistema dominado pelo
poder político com o retrocesso irremediável do combate ao crime
económico, pondo fim à separação de poderes”, adianta o sindicato.