Sindicato do ensino superior vê dificuldades no "plano de emergência" para alunos sem aulas
15 de jun. de 2024, 11:41
— Lusa/AO Online
O
Governo aprovou um plano que estipula, entre outras "medidas de
emergência", o recrutamento de 500 bolseiros de doutoramento para "reter
e atrair" a partir do próximo ano letivo professores para escolas com
alunos sem aulas.O presidente do SNESup,
José Moreira, realçou à Lusa que os bolseiros de doutoramento estão “num
processo de trabalho bastante exaustivo” e que “exige muita dedicação”.“É
complexo porque estamos a falar de pessoas que estão a trabalhar para
obter o grau de doutoramento e um horário de 10 horas semanais parece-me
nitidamente exagerado porque é mais do que um dia completo de trabalho.
(…) O plano de trabalho destas pessoas será obviamente afetado”, vincou
à agência Lusa o presidente do SNESup, José Moreira.“Não
recusamos que estas pessoas possam participar na resolução deste
problema, mas este horário parece revelar algum desconhecimento sobre
qual é a dinâmica dos doutoramentos”, acrescentou.O
plano do Governo prevê, ainda, atrair 500 mestres e doutorados para "o
exercício de funções docentes com formação científica correspondente aos
grupos de recrutamento deficitários, incentivando através de uma bolsa a
qualificação profissional para a docência". Outra
das metas será atrair 500 cientistas para "a carreira docente do básico
e secundário, tendo em conta o tempo de serviço prestado em
instituições de ensino superior, com a obrigatoriedade de frequência da
adequada formação pedagógica".O líder do
SNESup apontou que a medida de recrutar doutorados para o exercício de
funções docentes pode “trazer a outros graus de ensino algum dinamismo e
atualização científica”, lembrando que irá depender sempre "das
condições em que estes venham a ser contratados”. José
Moreira considerou, por outro lado, “um pouco estranha” a medida para
recrutar docentes do ensino superior para o ensino secundário.“São
carreiras distintas, não foi de nenhum modo posto em evidência como é
que se procederia à transição de carreiras, portanto, não creio que este
seja uma medida que vá ter grandes hipóteses de sucesso”, frisou."Como
é que se vai recrutar pessoas ao ensino superior para os outros graus
de ensino, tudo isto pode ser apenas uma espécie de balão que não tem
por onde encher. Estas medidas podem ser muito espetaculares do ponto de
vista da comunicação, mas do ponto de vista prático, de efeitos no
sistema, temos muitas dúvidas, salvaguardando o que não conhecemos em
pormenor", acrescentou.Dando o “benefício
da dúvida” por não conhecer as medidas em detalhe, José Moreira
sublinhou que estas “podem ter algum grau de sucesso, mas também podem
ser um completo estoiro e, portanto, não serem rigorosamente nada”.