Sindicato de 'call centers' diz que incorporação de trabalhadores na Altice é "manobra publicitária"
15 de jan. de 2020, 12:47
— Lusa/AO Online
“Parece-nos
simultaneamente uma manobra publicitária e uma forma perversa de a
própria Altice ganhar dinheiro à custa destes trabalhadores”, afirmou o
dirigente do STCC Manuel Afonso, em declarações à agência Lusa.Segundo
salientou, os trabalhadores em causa “não vão ser integrados nos
quadros da Altice”, tendo esta criado “a sua própria empresa de
‘outsourcing’ para os ter subcontratados já não a uma empresa de
‘outsourcing’ externa, mas a uma empresa de ‘outsourcing’ da própria
empresa”.“Partindo do princípio que tudo
isto será feito através de uma transmissão de posto de trabalho e que os
trabalhadores não vão perder a antiguidade, para eles a diferença é
pouca ou nenhuma”, considerou Manuel Afonso, sustentando que, “se os
trabalhadores fossem, de facto, integrados pela Altice passariam a fazer
parte da contratação coletiva de trabalho da Altice e passariam a ter
acesso aos serviços de saúde da Altice, e nada disso vai acontecer
aqui”.A Altice Portugal anunciou hoje o
início de uma nova operação em Portugal, através da Intelcia (que opera
na área de 'outsourcing' ou subcontratação de serviços), a qual vai
incorporar cerca de 2.000 pessoas da ManpowerGroup Solutions num
processo que deverá estar concluído até março.Assim,
a Intelcia Portugal, que é detida em 65% pela Altice Portugal, passa a
ser o prestador preferencial dos serviços de atendimento ao cliente da
dona da Meo, pelo que as áreas de contacto com o cliente e comercial,
que eram asseguradas até agora pela ManpowerGroup Solutions, vão passar a
ser totalmente assumidas por aquela entidade.Na
opinião do dirigente sindical, o cenário “até é mais perverso” do que o
atual, já que “fica evidente que, embora sempre tenham dito que
contratam ‘outsourcing’ porque não é o seu ramo de negócio gerir ‘call
centers’, afinal querem e podem gerir os ‘call centers’, mas pura e
simplesmente não querem integrar os trabalhadores nos quadros”.“Agora
já são os próprios a gerir o ‘call center’, só que criam um
intermediário extra, que deixa os trabalhadores fora da contratação
coletiva, fora da progressão na carreira e fora dos serviços de saúde
internos da antiga Portugal Telecom, e mantém-nos no Código do Trabalho,
no mínimo dos mínimos que a lei permite”, sustenta o STCC.Segundo
Manuel Afonso, “é a Altice que se está a transformar, ela própria, numa
empresa de ‘outsourcing’, mas em vez de integrar os trabalhadores nos
quadros, cria mais uma empresa intermediária, uma subempreiteira”.Para
o dirigente sindical, esta alteração em nada significa uma redução da
precariedade laboral dos trabalhadores, já que tal implicaria “integrar
diretamente na contratação coletiva da própria Altice ou fazer um
contrato coletivo de trabalho transversal a todos os ‘call centers’, que
dê direitos a estes trabalhadores para lá do mínimo a que a lei
obriga”.Neste caso, diz, a única alteração
é que “a empresa deixa de pagar à ManPower por esse serviço e passa a
pagar a si própria, porque passa a subcontratar a uma empresa que é do
próprio grupo”.Convicto de que o anúncio
hoje feito pela Altice Portugal “é uma manobra publicitária”, Manuel
Afonso nota que “as palavras [escolhidas pela empresa] estão muito bem
trabalhadas”, dizendo-se que “os trabalhadores vão ser integrados nas
folhas de pagamento, e não nos quadros da Altice”.“Ora
o que interessa ao trabalhador não é o nome da empresa que vem na folha
de pagamento. O dinheiro vai continuar a ser o salário mínimo nacional
para a imensa maioria desses trabalhadores, só muda o logótipo no recibo
do vencimento, o que talvez se torne até mais frustrante, porque fica
evidente que a empresa pode, mas não quer integrar os trabalhadores”,
rematou.Segundo foi hoje anunciado pela
Altice Portugal, os cerca de 2.000 trabalhadores que estavam na
ManpowerGroup a prestar um conjunto de serviços para a empresa vão ser
incorporados na Intelcia e passam a "integrar a folha salarial" do
grupo.Com esta medida, "a Altice volta a
investir em Portugal e a criar emprego", afirma o presidente executivo
da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, salientando que "este movimento
vai reforçar o compromisso do grupo" no mercado português.Alexandre
Fonseca garantiu ainda que vão ser "asseguradas todas as condições que
os trabalhadores tinham na sua empresa de origem", além de que vão
beneficiar de um seguro de saúde com acesso à rede da Altice Portugal.A
Intelcia Portugal conta com uma centena de trabalhadores, aos quais se
vão juntar os cerca de 2.000 trabalhadores da ManpowerGroup. A Altice
Portugal detém 65% da empresa, sendo que os restantes 35% são detidos
por dois acionistas marroquinos.Em termos
globais, a Intelcia conta com mais de 14 mil colaboradores e presença em
nove países, apostando na continuação da sua expansão.