Sindicato da Guarda Prisional critica gestão da pandemia nas cadeias
Covid-19
25 de nov. de 2020, 16:13
— Lusa/AO Online
Em
ofício enviado ao Presidente da República, Provedora de Justiça e
Subcomissão Parlamentar de Reinserção Social e Assuntos Prisionais, a
que a Lusa teve acesso, o sindicato (SNCGP) alerta que "todo o sistema
prisional é afetado por decisões e medidas avulsas e, oriundas de
pessoas que pouco percebem das prisões", apontando o caso de contágios
do novo coravírus nas prisões, que, lembra, é "um meio tão fechado".O
sindicato refuta alegadas declarações da ministra da Justiça no sentido
de que "a culpa das infeções nas prisões é dos funcionários",
contrapondo que, se "as inspeções fossem verdadeiras", seriam
responsabilizados aqueles que a governante "nomeou para diretores,
porque não cumprem as regras com rigor, não criam regras próprias para
as prisões que dirigem, entre outras irresponsabilidades". Na
mensagem a Marcelo Rebelo de Sousa, o SNCGP diz não perceber "a falta
de coerência do diretor-geral [dos serviços prisionais] de na primeira
vaga [da pandemia] ter encerrado os estabelecimentos prisionais e, na
segunda vaga, numa fase crítica, estranhamente mantém os
estabelecimentos prisionais a funcionar normalmente com visitas (apesar
do sucesso e interesse de muitos reclusos nas visitas por videochamada),
escola, formação, trabalho no exterior e interior, o que potencia a
circulação do vírus pelos reclusos de pavilhões ou alas diferentes". "Na
escola encontram-se reclusos de diferentes alas, por isso é que em
Tires as reclusas do regime aberto e as mães (incluindo duas crianças)
ficaram infetadas e, na ala C do EP Lisboa, devido ao recluso faxina da
enfermaria que ia e vinha todos os dias do trabalho para a ala", adianta
o SNCGP.Diz ainda o sindicato não
perceber como é que numa "primeira fase o diretor-geral [Rómulo Mateus]
não autorizava o uso de máscaras para não criar alarme social entre os
reclusos" e, mais tarde, decidiu que só os guardas que trabalhavam na
zona prisional é que usavam máscara. "Só
em setembro é que recomendou o uso de máscara de forma generalizada para
funcionários e, quem entrava nas prisões, mas nem todos cumpriam porque
não existe fiscalização", menciona o SNCGP.Por
outro lado, afirma também não compreender como é que o diretor-geral,
sabendo que a maioria dos reclusos é assintomática, não determinou a
realização de testes a todos os que entram na prisão, para "não
acontecer o que aconteceu em Tires, no Estabelecimento Prisional de
Lisboa e em Faro, onde os reclusos cumpriram quarentena sem sintomas e
foram colocados na zona prisional onde infetaram outros reclusos dando
origem a estes surtos".Entre várias outras
queixas, o sindicato diz igualmente não compreender como é que o
diretor-geral, "teimosamente, contraria o secretário e Estado Adjunto e
da Justiça, a ministra da Justiça, o secretário de Estado da Saúde, a
ministra da Saúde e mesmo o Governo, quando determina "o uso obrigatório
de máscara quando não está garantido o distanciamento social". Isto
porque, acentua o sindicato, as prisões, "supostamente, fazem parte da
mesma sociedade/comunidade sujeita às medidas do Governo"."Também
não percebemos como é que a Direção-Geral da Saúde diz que as máscaras
que usamos têm uma validade de quatro horas e o diretor-geral obriga o
corpo da guarda prisional a usar a mesma máscara durante 12 horas, sendo
que durante essas horas colocamos e tiramos a máscara da cara várias
vezes ao dia, húmida", queixa-se ainda o SNCGP. "Se
a máscara rebentar dizem para agrafarmos ou darmos um nó porque não nos
dão mais máscaras", precisa o sindicato presidido por Jorge Alves.O
sindicato questiona ainda o motivo pelo qual o diretor-geral, perante
infeções em profissionais do corpo da guarda prisional de serviço, não
determina a realização de testes a todos os funcionários e reclusos
dessas cadeias.O sindicato critica também o
diretor-geral por, perante os resultados da covid-19 nas prisões
europeias, não ter adotado medidas "mais firmes, objetivas e concretas
desde cedo, preocupando-se apenas em dar o mote e justificar a
libertação de reclusos". O sindicato não
entende também como é que na prisão da Covilhã, tendo-se registado um
caso positivo num guarda e num recluso, até à data "ainda não foram
feitos testes a ninguém"."Não
compreendemos como é que em Vale de Judeus recentemente tivemos três
casos positivos em guardas e não foram realizados testes para despiste",
acrescenta o SNCGP, sendo idêntica crítica sido extensiva à cadeia de
Alcoentre, onde diz o sindicato, se registaram vários casos positivos e
não foram realizados testes. "Aliás, nesta prisão 13 reclusos infetados resultaram de saídas precárias", denuncia o SNCGP.O
SNCGP diz esperar que com o aproximar do Natal os diretores, apesar das
“recomendações” do diretor-geral, "não corram o risco de permitir
precárias" para que não se registem mais casos de infeções em reclusos,
com a agravante de que, com o regresso, a quarentena teria de ser
cumprida na própria prisão onde há falta de condições.