Sindicato critica falta de informação de Câmara da Praia da Vitória sobre rescisões
4 de abr. de 2023, 16:21
— Lusa
“Neste
momento, as dúvidas que surgem são bastantes: Quais os setores que
serão afetados e os que vão ser reduzidos? Qual o número de
trabalhadores nesses setores? Se os valores calculados da indemnização
estão ou não corretos? E a partir de quando, quem quiser, tem o seu
processo concluído?”, questionou a coordenadora do Sindicato Nacional
dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas,
Concessionárias e afins (STAL) nos Açores, Benvinda Borges, numa
conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.A
cooperativa Praia Cultural, inserida no grupo municipal da Praia da
Vitória, integra 165 trabalhadores com contrato sem termo e oito com
contrato a termo.Na sequência de uma
auditoria que identificou um passivo de 33,2 milhões de euros no grupo
municipal, a autarca, Vânia Ferreira (PSD/CDS-PP), que tomou posse em
2021, admitiu a possibilidade de despedimentos na cooperativa.No
dia 10 de março, a presidente do município reuniu-se com sindicatos e
trabalhadores, apresentando as condições das rescisões por mútuo acordo,
que contemplam uma indemnização de 35 dias, para os contratos
anteriores a 2011, e de 18 dias para os posteriores, além de dois
salários.A pedido do STAL, o prazo para
comunicação da intenção de rescisão foi alargado para 10 de abril, mas
segundo o sindicato o município não avançou com “o número exato de
trabalhadores a despedir”, nem identificou os setores afetados, e “há
dúvidas em relação aos valores apresentados”.“Nota-se
medo e grande preocupação. Muitos deles são jovens, não há muitos
trabalhadores com idade para além dos 60 anos. Alguns contraíram
empréstimos para casa, outros têm crianças pequenas. É uma situação
muito complexa”, afirmou Benvinda Borges.Segundo a autarca, o município só tem capacidade para absorver entre 80 a 100 trabalhadores da cooperativa.Benvinda
Borges alertou que, de acordo com a lei, a rescisão por mútuo acordo só
pode abranger 25% dos trabalhadores de uma empresa com um número
inferior a 200 trabalhadores, o que significa que, dos 65 a 80 que serão
dispensados, só 41 poderão beneficiar dessas condições.“O
que é que acontece se forem mais os trabalhadores que manifestarem a
sua vontade em irem por mútuo acordo? Alguns vão ficar de fora”,
questionou.A dirigente sindical disse que
há funcionários da cooperativa que trabalham no tribunal, na repartição
de finanças, em creches e ateliês de tempos livres (ATL), mas não há
ainda “garantias” de que possam ser integrados noutras instituições.Acusou ainda a autarquia de ter "dois pesos e duas medidas", por revelar a alguns trabalhadores que não serão despedidos. Questionada
pela Lusa, a presidente do município disse que não pode avançar com um
número exato de despedimentos, enquanto não souber quantos funcionários
vão aderir às rescisões por mútuo acordo.“Foi
explicado aos sindicatos e aos funcionários, que, mediante a adesão ao
mútuo acordo, nós nos proporíamos a fazer a reorganização de todos os
departamentos, uma vez que já temos um levantamento das necessidades”,
adiantou.Quanto ao prazo para a conclusão
do processo, Vânia Ferreira disse que “vai depender do volume” de
rescisões, mas que a autarquia tudo fará para que seja “até ao final de
abril”.A autarca disse que foi pedida a
colaboração de uma empresa externa no cálculo das indemnizações, para
que “não houvesse nenhum tipo de melindres”.Admitiu
que houve “algumas falhas”, devido à contabilização do número de dias
de férias por gozar, mas garantiu que a situação dos trabalhadores que
contactaram a autarquia “foi revista”.Vânia
Ferreira reconheceu que terão de existir despedimentos para além das
rescisões por mútuo acordo, que, pelas indicações da autarquia, não
deverão “chegar ao limite” de 25% previsto na lei.No
entanto, frisou que a autarquia está em contacto com instituições, para
que possa haver uma “transição” de atividades asseguradas atualmente
pelo município, reduzindo o número de despedimentos.