Sindicato aponta baixos salários e precariedade como causas da pobreza nos Açores
15 de jun. de 2020, 15:05
— Lusa/AO Online
“Os dois fatores determinantes em relação à
pobreza e à exclusão social nos Açores são os baixos salários – e são
cada vez mais os trabalhadores nos Açores que são confrontados com essa
situação – e a qualidade do emprego. Aquilo que nós vemos é que pouco ou
nada tem sido mudado. O trabalho precário está enraizado e as condições
dos que têm trabalho efetivo têm vindo a degradar-se”, afirmou hoje o
coordenador do SITACEHT, Vítor Silva, numa conferência de imprensa, em
Angra do Heroísmo.As conclusões do
sindicato resultam de um trabalho realizado, desde novembro de 2019, em
conjunto com a União de Sindicatos de Angra do Heroísmo, em que
foi analisado o reflexo do rendimento e do emprego na pobreza e na
exclusão social nos Açores, com base em estudos académicos, dados
estatísticos e contratos coletivos de trabalho publicados, entre outros.As
propostas do SITACEHT para o combate à pobreza só serão divulgadas na
próxima semana, mas a caracterização da pobreza nos Açores, apresentada
hoje, coloca o arquipélago no último lugar da tabela em todos os
indicadores.“O que verificamos é que
crescem as desigualdades entre ricos e pobres, num contexto em que as
taxas de risco de pobreza na nossa região são as maiores do país”,
frisou Vítor Silva.Segundo dados do
Instituto Nacional de Estatística (INE), os Açores apresentavam em 2019 a
maior taxa de pobreza e exclusão social do país (36,7%, quando a média
nacional era 21,6%) e a maior taxa de privação material severa (13,1%,
quando a média nacional era de 5,6%).A
justificação está, segundo o sindicato, na “precariedade generalizada” e
na diferença salarial, já que, em média, os trabalhadores por conta de
outrem no arquipélago têm um salário líquido de 801 euros, menos 110
euros do que a média nacional, e 19% recebem menos de 600 euros por mês.“Apesar
de o salário mínimo aumentar, não há este mesmo reflexo nas restantes
categorias profissionais, nem na restante tabela salarial, o que faz com
que haja uma perda de rendimentos por todos os outros trabalhadores e
que cada vez mais o salário mínimo regional vá absorvendo todas as
categorias profissionais”, salientou o sindicalista, alegando que o
mesmo não acontece no resto do país.“Corremos
o risco de daqui a dois ou três anos, se nada for feito para alterar
esta situação, no setor privado só haver salário mínimo regional e isto é
gravíssimo. Esta é uma situação que no nosso entender contribui e muito
o agravar destas situações de pobreza e exclusão social”, acrescentou.Em
ano de eleições regionais, o SITACEHT quer trazer a pobreza e a
exclusão social à discussão e sensibilizar os partidos políticos para a
necessidade de implementar medidas mais eficazes.“Tem
sido criado um conjunto de medidas, mas que não passam de um conjunto
de cuidados paliativos e nós queremos mais do que isso. Queremos medidas
efetivas, medidas concretas, que possam contribuir para alterar esta
situação. Não é uma situação que possa ser alterada num curto espaço de
tempo, é uma situação que vai ser alterada a médio e longo prazo, mas
tem de começar a ser tratada já”, frisou Vítor Silva.O
trabalho desenvolvido pelo SITACEHT deverá ser traduzido num caderno
reivindicativo, apresentado até setembro, e, numa segunda fase, os dados
recolhidos deverão ser analisados pelo gabinete de estudos da CGTP.