Sindicato apela ao Estado português para pagar salários dos trabalhadores da Base das Lajes
16 de out. de 2025, 16:40
— Lusa/AO Online
“Os
pagamentos são da responsabilidade dos norte-americanos. Não cumprindo
esse pagamento, os norte-americanos, na nossa opinião terá de ser o
Estado português a assumir esses pagamentos, porque é o Estado português
quem representa estes trabalhadores”, afirmou o coordenador do
SITACEHTT/Açores, Vítor Silva, em conferência de imprensa.Os
trabalhadores portugueses ao serviço das Feusaçores (forças
norte-americanas destacadas na base das Lajes), na ilha Terceira, são
pagos quinzenalmente.Na última quinzena,
não receberam o valor equivalente ao período entre 01 e 04 de outubro,
devido à introdução de uma suspensão temporária e não remunerada
aplicável a funcionários públicos norte-americanos.A
suspensão temporária, que ocorreu na sequência da paralisação parcial
da administração norte-americana por não ter sido aprovado o orçamento
dos Estados Unidos, pode colocar em causa o pagamento da próxima
quinzena, no dia 24 de outubro.Mesmo sem garantias de virem a receber os salários, os funcionários são obrigados a continuar a trabalhar.Para
o sindicato, esta situação, “grave e sem precedentes”, “viola os
princípios básicos de justiça laboral e compromete a dignidade dos
trabalhadores portugueses”. “É uma
situação de tremenda injustiça em relação à parte mais fraca que são os
trabalhadores portugueses da Base das Lajes e do ponto de vista político
é possível fazer muito mais do que aquilo que tem sido feito”,
salientou Vítor Silva.O dirigente sindical
apelou ao Governo da República para que assuma “uma postura de maior
exigência e firmeza em relação aos Estados Unidos da América, no âmbito
do Acordo de Cooperação e Defesa” entre os dois países.Para
além do pagamento dos salários, defendeu que devem ser asseguradas “no
imediato” medidas como a aplicação de aumentos salariais em 2025, a
revisão das tabelas salariais para evitar que os níveis mais baixos
sejam inferiores ao salário mínimo regional, a aplicação das
atualizações salariais com retroativos a 01 de janeiro e a aplicação de
medicina no trabalho.“Se o Estado
português tem tido uma posição muito mais dinâmica junto dos Estados
Unidos, possivelmente não estaríamos neste ponto agora. É esta inércia
da parte do Estado português que no nosso entender faz com que as
situações cheguem a este ponto”, vincou, alegando que muitas destas
reivindicações são feitas há 20 anos.As
críticas estendem-se também aos membros do Governo Regional dos Açores,
que, segundo o dirigente sindical, tinham uma postura diferente quando
estavam na oposição.“Algumas das partes
que são intervenientes no atual processo, em 2011, quando foi do [fim
do] inquérito salarial estavam constantemente na comunicação social, e
bem, a defender os trabalhadores portugueses da Base das Lajes. Agora
estão do outro lado da barricada e praticamente aquilo que fazem é
mandar uma carta ao Governo da República. É muito pouco, nós queremos
muito mais do que isso”, apontou.Desde
maio de 2024 que a Comissão Bilateral Permanente entre Portugal e os
Estados Unidos não se reúne, o que, segundo o sindicato, coloca entraves
à resolução de conflitos laborais na Base das Lajes.“Nós
temos representantes portugueses e açorianos na Comissão Laboral e na
Comissão Bilateral e estes representantes têm de ser muito mais
exigentes. O mínimo que se pode fazer é exigir que as reuniões
aconteçam, de acordo com o que está consagrado, que é de seis em seis
meses”, frisou.O SITACEHTT defendeu ainda
que o Governo português deve salvaguardar um contingente mínimo de 450
trabalhadores portugueses nas Lajes e a consagração de prazos de
resposta nos diferentes níveis de resolução de conflitos.“Se
tivéssemos salvaguardado no Acordo de Cooperação e Defesa que o número
de trabalhadores portugueses era de 450, os trabalhadores da Base das
Lajes não estariam sempre numa situação de instabilidade, sem saber
quando vai acontecer o próximo despedimento”, sublinhou.