Sindicato alerta para risco de "alguma coisa grave" acontecer nas prisões
12 de jan. de 2023, 18:22
— Lusa/AO Online
Ouvido
na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias, Hermínio Barradas disse que a ASCCGP não
pretende ser "alarmista", mas advertiu que os vários problemas por
resolver nas prisões, quer relativamente às condições de detenção dos
reclusos, quer em relação à falta de chefes e guardas prisionais,
potencia que alguma "coisa grave" possa acontecer.Em
sua opinião, o recente incidente no Estabelecimento Prisional da
Polícia Judiciária, que obrigou à presença durante várias horas no local
do Grupo de Intervenção dos Serviços Prisionais para acalmar e conter
os protestos dos reclusos ali detidos, "foi um sinal" do que pode vir a
acontecer noutras cadeias.A este
propósito, referiu que o EP da PJ tem capacidade para 116 reclusos, mas
já chegou a albergar 189. Falou ainda das dificuldades dos chefes da
guarda prisional em lidar com a chegada súbita de dezenas de detidos de
uma só vez, como aconteceu no passado em relação a uma claque de um
clube de futebol e a um grupo ‘motard’ acusado da prática de vários
crimes."Não fazem ideia do esforço que
fazemos para levar as coisas a bom termo", enfatizou Hermínio Barradas,
apelando aos deputados para que "olhem para a situação dos guardas
prisionais", uma profissão que "está envelhecida", mal remunerada, com a
carreira estagnada e para a qual "já ninguém quer vir".Nas
palavras do presidente da ASCCGP, tudo isto "são sinais preocupantes"
para o futuro do sistema prisional e da guarda prisional que, disse, é a
terceira maior força de segurança do país.Na
audição parlamentar, Hermínio Barradas aludiu aos "problemas
sistémicos", sobretudo de carreira, que atingem a classe, observando que
atualmente "não há chefes" suficientes, pelo que muitas das funções
destes têm que ser delegadas em guardas prisionais sem o estatuto de
chefe, apontando como exemplo paradigmático aquilo que sucede no
Estabelecimento Prisional (EP) de Ponta Delgada.Durante
a sessão, a deputada Sofia Matos (PSD) recordou a visita efetuada pelos
deputados ao EP de Ponta Delgada, considerando que a mesma foi "um
murro no estômago" de todos os presentes, devido à falta de condições
prisionais e a outros problemas detetados.Quanto
à situação dos reclusos nas diversas cadeias do país, Hermínio Barradas
chamou a atenção para a existência de "infraestruturas degradadas",
"alojamentos coletivos que não respeitam as regras internacionais", bem
como para problemas de "segurança, humidade, frio, calor" e más
condições sanitárias e de saneamento nas instalações que acolhem os
presos.O dirigente sindical criticou ainda
o sistema prisional por misturar jovens com idosos, reclusos doentes e
com doenças infecto-contagiosas com outros saudáveis, reclusos com penas
curtas com outros com penas longas", num caldo penitenciário que
dificulta o trabalho da guarda prisional em garantir a segurança e a
pacificação de conflitos.Hermínio Barradas
disse ainda, em resposta a perguntas dos deputados, que a reinserção
social "não está a ser cumprida", sendo prova de que está a falhar a
elevada taxa de reincidência dos reclusos, muitos deles a entrarem pela
quarta e quinta vez na cadeia com um longo historial penitenciário.O
dirigente sindical alertou também que nos próximos anos mais de mil
efetivos estão em condições de se aposentarem, o que irá agravar a já
tão conhecida falta de chefes da guarda prisional, os quais são
diariamente submetidos a situações de "grande tensão emocional e física"
em cadeias, algumas delas com sobrelotação de reclusos.O
mesmo responsável indicou que a Direção-Geral dos Serviços Prisionais
tem disfarçado o problema da sobrelotação, aumentando
administrativamente a lotação das cadeias, conforme ocorreu na
Carregueira que, de repente, passou de uma lotação de 732 para cerca de
900 reclusos.O presidente da ASCCGP
reconheceu que o "contexto dramático" que se vive nas prisões a que se
chegou é o resultado de mais de duas décadas de políticas de sucessivos
governos, concordando com a deputada Sofia Matos (PSD) que o sistema
prisional é "o parente pobre do parente pobre de todas as áreas da
governação".