Autor: Lusa / AO online
"Há uma grande diferença entre a formação e o exercício da profissão, pois muitas vezes é necessário trabalhar com barulho constante, em locais com um entra e sai de gente e sem acesso ao material que faz falta", assinalou o coordenador da Urgência de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria em entrevista à agência Lusa.
Além destes causadores de ansiedade, há factores agravantes, que resultam também "da perda de espírito de grupo entre os médicos", disse o responsável, que se licenciou em 1981 e fez a especialização em 1990.
O curso geral de Medicina é composto por seis anos, seguindo-se quatro ou cinco de especialização em que o novo médico fica sob a tutela de um especialista e é nesta fase que começam a surgir alguns problemas.
"Se nos primeiros seis meses a um ano há alguma condescendência, a seguir a exigência acentua-se e nem sempre o novo médico tem segurança para tomar decisões com uma elevada componente de ambiguidade", afirmou Marcelo Feio, segundo quem, "pessoas menos confiantes ou mais susceptíveis" podem ficar pelo caminho.
"Muitos médicos que não aguentam ambientes de tensão ou competição são marginalizados, não conseguindo entrar em determinadas equipas e ficando numa situação de exclusão que pode reflectir-se ao longo de toda a carreira", sublinhou o coordenador da Urgência Psiquiátrica, que também lecciona, dá consultas e faz alguns internamentos.
Para o psiquiatra, de 52 anos, mais do que o confronto com casos chocantes, "como acidentados graves, crianças com neoplasias [que podem ser malignas, como alguns carcinomas] ou pessoas com malformações", os maiores causadores de stress nos médicos são problemas de índole laboral.
Na opinião de Marcelo Feio, além de existir "uma grande variedade de vínculos laborais e até a ausência de qualquer vínculo", actualmente procura-se "rentabilizar ao máximo - e por vezes de forma desumana - o pessoal médico, o que origina rupturas".
"O atendimento hospitalar está em grande transformação, não se respeitam as vocações e uma quebra brutal de condições - que já se verificava noutros sectores da sociedade - chegou ao reduto dos enfermeiros e médicos, que antes tinham capacidade para exigir determinadas condições, enquanto agora...", lamentou o responsável.
O coordenador da Urgência de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria revelou ainda à Lusa que "há muitas lutas internas pelo poder e para subir na hierarquia dentro dos hospitais portugueses" e criticou que, na avaliação dos médicos, "critérios que no passado eram clínicos se tenham tornado quase exclusivamente quantitativos".
"Um doente internado com um determinado diagnóstico tem uma determinada previsão de evolução - de acordo com parâmetros pré-definidos - e, se ele não melhorar no tempo esperado, o hospital é logo penalizado", exemplificou.
Num sector onde "as medidas são cada vez mais economicistas", as pessoas "terão direito à saúde que conseguirem comprar e daí dependerá o seu tempo de vida", destacou o médico, que critica o facto de haver "uma boa parcela da saúde na mão das seguradoras".
"Estas, por seu turno, não querem ter segurados com idade superior a 65 anos, que é quando o apoio médico começa a ser mais necessário", apontou Marcelo Feio, lembrando que "as companhias de seguros até já definiram quanto custa cada dia de vida de uma pessoa".
O problema estende-se ao meio farmacêutico, "onde o mercado dita as regras", pois "um medicamento só é introduzido se for mais barato ou curar o doente mais depressa", o que reflecte uma lógica de poupança e "uma normalização perversa que afecta o direito de escolha dos pacientes".
E como a introdução de um fármaco no mercado também tem em conta o seu público potencial, "resultam prejudicados os portadores de doenças mais raras", concluiu.
Além destes causadores de ansiedade, há factores agravantes, que resultam também "da perda de espírito de grupo entre os médicos", disse o responsável, que se licenciou em 1981 e fez a especialização em 1990.
O curso geral de Medicina é composto por seis anos, seguindo-se quatro ou cinco de especialização em que o novo médico fica sob a tutela de um especialista e é nesta fase que começam a surgir alguns problemas.
"Se nos primeiros seis meses a um ano há alguma condescendência, a seguir a exigência acentua-se e nem sempre o novo médico tem segurança para tomar decisões com uma elevada componente de ambiguidade", afirmou Marcelo Feio, segundo quem, "pessoas menos confiantes ou mais susceptíveis" podem ficar pelo caminho.
"Muitos médicos que não aguentam ambientes de tensão ou competição são marginalizados, não conseguindo entrar em determinadas equipas e ficando numa situação de exclusão que pode reflectir-se ao longo de toda a carreira", sublinhou o coordenador da Urgência Psiquiátrica, que também lecciona, dá consultas e faz alguns internamentos.
Para o psiquiatra, de 52 anos, mais do que o confronto com casos chocantes, "como acidentados graves, crianças com neoplasias [que podem ser malignas, como alguns carcinomas] ou pessoas com malformações", os maiores causadores de stress nos médicos são problemas de índole laboral.
Na opinião de Marcelo Feio, além de existir "uma grande variedade de vínculos laborais e até a ausência de qualquer vínculo", actualmente procura-se "rentabilizar ao máximo - e por vezes de forma desumana - o pessoal médico, o que origina rupturas".
"O atendimento hospitalar está em grande transformação, não se respeitam as vocações e uma quebra brutal de condições - que já se verificava noutros sectores da sociedade - chegou ao reduto dos enfermeiros e médicos, que antes tinham capacidade para exigir determinadas condições, enquanto agora...", lamentou o responsável.
O coordenador da Urgência de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria revelou ainda à Lusa que "há muitas lutas internas pelo poder e para subir na hierarquia dentro dos hospitais portugueses" e criticou que, na avaliação dos médicos, "critérios que no passado eram clínicos se tenham tornado quase exclusivamente quantitativos".
"Um doente internado com um determinado diagnóstico tem uma determinada previsão de evolução - de acordo com parâmetros pré-definidos - e, se ele não melhorar no tempo esperado, o hospital é logo penalizado", exemplificou.
Num sector onde "as medidas são cada vez mais economicistas", as pessoas "terão direito à saúde que conseguirem comprar e daí dependerá o seu tempo de vida", destacou o médico, que critica o facto de haver "uma boa parcela da saúde na mão das seguradoras".
"Estas, por seu turno, não querem ter segurados com idade superior a 65 anos, que é quando o apoio médico começa a ser mais necessário", apontou Marcelo Feio, lembrando que "as companhias de seguros até já definiram quanto custa cada dia de vida de uma pessoa".
O problema estende-se ao meio farmacêutico, "onde o mercado dita as regras", pois "um medicamento só é introduzido se for mais barato ou curar o doente mais depressa", o que reflecte uma lógica de poupança e "uma normalização perversa que afecta o direito de escolha dos pacientes".
E como a introdução de um fármaco no mercado também tem em conta o seu público potencial, "resultam prejudicados os portadores de doenças mais raras", concluiu.