Setor privado está muito dependente do setor público
4 de set. de 2024, 10:13
— Rafael Dutra
O presidente do Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), Gualter
Furtado, indicou que várias atividades do setor privado estão muito
dependentes do setor público e dos gastos que estão previstos no
orçamento regional dos Açores.Gualter Furtado foi ouvido pela
Comissão de Economia da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos
Açores (ALRAA), no âmbito da Proposta de Decreto Legislativo Regional
n.º 10/XIII (GRA) que aprova o quadro plurianual de programação
orçamental para o período compreendido entre 2025 e 2028.Para o
presidente do CESA, este é um documento importante, que “pode induzir à
previsibilidade dos investimentos e nas despesas que os pareceres
económicos têm de fazer, sobretudo as câmaras de comércio e indústrias
dos Açores e associados. Mas, também é importante para os outros
parceiros, sobretudo da área social”, frisa, em declarações ao Açoriano
Oriental.Não obstante, Gualter Furtado diz que o quadro plurianual da programação orçamental também tem a suas lacunas.“O
documento necessita de informação complementar, sobretudo de um
enquadramento macro económico que justifique os valores sobretudo dos
anos 2026, 2027 e 2028. Isso é muito importante para se compreender os
diversos ritmos de crescimento no ano de 2024 para 2025, e depois o
crescimento da despesa pública nos anos seguintes”, afirma Gualter
Furtado.Por esta razão, defende que esse documento precisa de ser “mais
explícito em matéria dos agrupamentos” e que tem de haver “uma maior
explicitação e justificação dos valores nos diversos agrupamentos”.Outra
questão abordada na audição é alusiva aos valores indicados e sugeridos
para cada ano: “O conselho aceita que o ano de 2025 seja um ano em que o
valor que está inserido é um valor que seja mesmo concreto, porque os
outros valores para os anos de 2026, 2027 e 2028 sejam valores
indicativos, sujeitos a revisão, tal como sugere a Lei das Finanças das
Regiões Autónomas”, refere Gualter Furtado, sublinhando, no entanto, que
esta lei acaba por ser um pouco “contraditória com os seus artigos”.“Por
um lado, diz que aquele valor deve ser mesmo fixo, e que os valores
inseridos nos quadros devem ser respeitados, mas noutro artigo diz que
os valores são meramente indicativos para os anos de 2026,2027 e 2028,
e, por conseguinte, é preciso resolver essa situação”, indicou.No
entanto, apesar da importância deste tipo de documentos, o presidente do
conselho económico e social da Região entende que é necessário aumentar
as receitas próprias do Governo Regional dos Açores.“A questão é
que as receitas próprias da Região Autónoma dos Açores representam
apenas 51% de um financiamento de despesa pública global e é preciso que
essa taxa aumente. É preciso que as nossas receitas próprias com origem
no setor privado aumentem. Mas, para isso, é precisem que as empresas
tenham resultados e lucros”, assinalou o presidente do CESA.Nesse
sentido, aponta que uma das soluções para atingir esse aumento é através
do aumento de impostos do setor privado, uma vez que existem vários
setores de atividades, como os “interdependentes com o turismo, que
estão a ter acumulações de capital extraordinárias”.“O ideal é que o
setor privado não dependesse tanto do setor público, sei que seria o
ideal, porque quanto maior for o setor privado e apresentar resultados,
mais impostos pode pagar. A região precisa de receitas, do aumento das
receitas próprias”, sustenta Gualter Furtado, acrescentando que o
aumento das receitas poderá provir dos impostos gerados com o setor
privado.