Sérgio Figueiredo renuncia ao cargo de consultor do ministro das Finanças
17 de ago. de 2022, 10:19
— Lusa/AO Online
“Para
mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro
das Finanças. Sossego as almas mais sobressaltadas de que não cheguei a
receber um cêntimo, sequer formalizei o contrato que desde a semana
passada esperava pela minha assinatura”, pode ler-se num texto assinado
por Sérgio Figueiredo na edição ‘online’ do jornal.O
jornal Público noticiou a 09 de agosto que o Ministério das Finanças
tinha contratado o antigo diretor de informação da TVI e
ex-administrador da Fundação EDP Sérgio Figueiredo como consultor
estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das
políticas públicas, escolha que motivou críticas de partidos políticos, à
direita e à esquerda, e de comentadores políticos.Num
texto em que explica os seus motivos, Sérgio Figueiredo aponta que
“ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos
insultos e insinuações” depois de ter sido convidado pelo ministro das
Finanças, Fernando Medina.Para o
ex-administrador da Fundação EDP, “esta indignação tão generalizada e
profunda só acontece quando se descobre uma terrível ilegalidade”,
considerando que “a desfaçatez ultrapassou todos os limites", apesar de
ninguém ter falado em "qualquer ilegalidade ou irregularidade”.Sérgio
Figueiredo apresenta ainda as "quatro mentiras por detrás de uma
desistência”, referindo que foi atacado por “não ter competências para
as funções, o valor do 'salário', não ter exclusividade e a troca de
favores entre o contratado e o contratante”.Sobre
os alegados 'favores', salienta que é um dos argumentos mais
“repetidos” e “dos mais ofensivos”, defendendo que “não se provam de
forma alguma, não se baseiam em factualidades, trata-se apenas e só de
processos de intenções e julgamentos de caráter”.“Basicamente,
o raciocínio é tão primário como insultuoso: Fernando Medina quando
precisava de exposição, Sérgio Figueiredo deu-lhe palco na TVI; Sérgio
Figueiredo quando precisava de emprego, Fernando Medina contratou-o como
consultor”, atira o antigo diretor de informação da TVI, explicando que
conheceu atual ministro das Finanças através do canal de televisão.E
lembrou que Medina também teve espaços de opinião no Correio da Manhã e
na Rádio Renascença. "Que favores deverá Medina a Octávio Ribeiro e a
Graça Franco que, tal como eu, deixaram, entretanto, de liderar aqueles
projetos de informação?”, questiona ainda, considerando “espantoso que,
pela mais elementar regra de coerência, aquele jornal e aquela rádio
repliquem e ampliem a suspeição”, quando “fizeram a opção editorial
idêntica”.Quanto ao salário, Sérgio
Figueiredo salienta que esta questão teve “grande relevância nacional”
pelos “cerca de 70 mil euros anuais, o que corresponde ao valor de 5.800
euros brutos por mês” que iria auferir e não é "mais do que ganha o
próprio ministro".“Há três formas de
qualificar quem confunde uma prestação de serviços (12 meses) com o
salário do ministro (14 meses): incompetência, ignorância ou perfídia.
Aconteceram as três coisas ao mesmo tempo. A verdade foi tão torturada
que a mentira fez o seu curso. E várias vezes corrigida. Mas renascia
das cinzas com “notícias” que deveriam envergonhar quem as fez, mas
também quem as deixou publicar. Optaram deliberadamente pela mentira”,
realça.Sérgio Figueiredo aborda também no
texto as funções do cargo a que renunciou, contestando as “duas linhas
de argumentação” que não lhe reconheciam capacidades “para qualquer
espécie de intervenção no domínio das políticas públicas” e “uma alegada
redundância com as missões atribuídas a vários organismos que existem
no Ministério das Finanças e fora dele”.“Por
ignorância ou má-fé, surgiu a conversa do “lobbying”. Como se ouvir
outras pessoas ou conhecer outras opiniões relevantes da sociedade e
economia portuguesa significasse fazer-lhes a vontade. Mentes perversas
viram “Figueiredo a tratar dos ‘stakeholders’ de Medina”, quando o foco
não estava no ministro, mas nos problemas que tem a obrigação de gerir”,
frisa.Nas reações à notícia da escolha de
Sérgio Figueiredo, o Bloco de Esquerda criticou a escolha, o PCP
referiu que a contratação tinha “critérios certamente discutíveis”, a
Iniciativa Liberal acusou António Costa de “sacudir a água do capote”, o
PSD pediu “explicações” ao ministro das Finanças e primeiro-ministro e o
Chega quis que Fernando Medina fosse ouvido no Parlamento.