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Ser comandante de submarino implica conhecimento técnico e muita experiência de operação

Paulo Macedo da Silva, comandante do submarino Arpão, conta como a sua infância e juventude vividas na ilha do Faial influenciaram a sua escolha por uma carreira na Marinha Portuguesa, onde após um percurso profissional e de formação de duas décadas lhe foi atribuído o comando de um dos dois submarinos portugueses



Autor: Ana Carvalho Melo

Paulo Macedo da Silva, que viveu a sua infância e juventude na ilha do Faial, é capitão-tenente na Marinha Portuguesa e recebeu, no dia 5 de julho, o comando dos submarino português NRP Arpão, um dos dois submarinos da Marinha Portuguesa.
Neto de Vítor Macedo da Silva (1935-2021), que foi secretário regional do Equipamento Social do II Governo Regional dos Açores, entre 1982 e 1984, ocapitão-tenente Macedo da Silva revela que como ilhéu tem uma ligação natural ao mar e à Marinha, tendo a receção do comandando do NRP Arpão sido o concretizar de um sonho idealizado há duas décadas.

De que forma ter crescido numa ilha influenciou a sua escolha por uma carreira na Marinha?
Na verdade nasci em Lisboa por acaso, mas a minha família paterna é proveniente do Faial e vivi toda a minha infância e juventude no Faial até ingressar na Escola Naval, aos 19 anos de idade. Considero que ter uma ligação ao Mar e à Marinha é natural num ilhéu, ainda mais num faialense onde a presença da Estação Rádio Naval da Horta e das Corvetas é muito vincada, para além do contributo secular da Marinha e das Forças Armadas Portuguesas na vida e história dos Açores e dos açorianos, principalmente no socorro e apoio aquando de catástrofes naturais.

Como foi o seu percurso profissional na Marinha e como é que se chega ao comando de submarino?
Em 2001 concorri à Escola Naval e concluí o curso de Ciências Militares Navais-Ramo Marinha em 2006, após ter estagiado na corveta NRP General Pereira D’Eça na Zona Marítima dos Açores (ZMA). Estive depois dois anos na corveta NRP Afonso Cerqueira onde fiz duas comissões na ZMA. Posteriormente, tive a oportunidade de pertencer à primeira guarnição do NRP D. Francisco de Almeida, fragata adquirida por Portugal à Koninklijke Marine (Marinha Real Holandesa) onde era denominada Hr. Ms. Van Galen. Em 2010, desempenhei as funções de Oficial de Operações Anti-Submarinas na fragata NRP Corte-Real. Concorri ao Curso de Especialização em Submarinos que iniciou em setembro de 2011. Após terminar o curso estive seis anos no submarino NRP Arpão, sendo que nos últimos três anos desempenhei as funções de Imediato. Após esse período de embarque nos Submarinos, prestei serviço no Estado-Maior da Autoridade de Controlo Operacional de Submarinos (SUBOPAUTH). Neste último dia 5 de julho, recebi o Comando do submarino NRP Arpão, após ter frequentado o Curso de Comandante de Submarino no último semestre de 2023.

 Em que difere o comando de um submarino de outros comandos?
Nunca comandei outras Unidades Navais, mas os submarinos (à semelhança das aeronaves) operam num meio extremamente agressivo e com um risco elevadíssimo, pelo que os seus Comandantes devem possuir grande conhecimento técnico e muita experiência de operação nesse modelo de plataforma por forma a conhecer as especificidades técnicas de todos os sistemas que a constituem, para explorarem e tomarem decisões que garantam a segurança das pessoas e do material, principalmente em situações extremas de altíssimo risco.
Um submarino é uma plataforma militar cujo principal efeito é a dissuasão através da incerteza da sua presença, garantindo que permanece permanentemente indetetável mas mantêm a capacidade de recolher dados e informações, através dos seus sensores, de atividades e meios marítimos em alto mar e no litoral.

Quais são os maiores desafios que enfrenta ao comandar um submarino, tanto do ponto de vista técnico como humano?
Do ponto de vista técnico, o maior desafio é explorar ao máximo a capacidade dos recursos disponíveis para assegurar o eficaz cumprimento das missões atribuídas, garantindo a segurança das pessoas e do material.
Do ponto de vista humano, é dar todas as condições possíveis (formação, treino e estabilidade familiar) para que os militares da guarnição deem o melhor de si em prol da missão do submarino.

No início do mês, recebeu o comando do submarino Arpão. Em termos pessoais, como viveu esse momento?
Foi um momento muito gratificante e emotivo. Foi o concretizar de um sonho idealizado há 20 anos atrás, que exigiu muito estudo, trabalho, sacrifícios pessoais, familiares e profissionais e para o qual contribuíram um número incontável de familiares, amigos, Comandantes, chefes e camaradas que me ensinaram, apoiaram e são exemplos a seguir.

Desde que é o comandante do Arpão, já realizou alguma missão?
Já realizei missões desde que sou o Comandante do NRP Arpão. Sempre que um submarino está no mar contribui para o Conhecimento Situacional Marítimo no espaço sob soberania e jurisdição portuguesa e de interesse nacional. Concomitantemente, a guarnição realiza ações de treino de maneira a reforçar o entrosamento das equipas e aumentar a proficiência na operação e exploração do navio e dos seus sistemas até a máxima extensão possível.