Sentença do atentado de 11 de Março divulgada quarta-feira

29 de out. de 2007, 17:23 — Lusa / AO online

Nada se soube com antecedência quanto à sentença do atentado mais sangrento da história recente de Espanha, que será divulgada numa sessão pública na sala especial onde se reuniu a Audiência Nacional - supremo tribunal espanhol - para a realização do julgamento, entre Fevereiro e Julho deste ano. Estarão presentes os 28 acusados e os seus advogados, bem como vítimas e os seus familiares, para a leitura da sentença, pelo juiz Javier Gomez Bermudez. No fim-de-semana, os 18 acusados em prisão preventiva foram transferidos para quatro cadeias de Madrid dos 11 estabelecimentos onde estavam detidos, para poderem estar presentes à leitura, marcada para as 10:00 (hora de Lisboa). Gomez Bermudez conseguiu até agora evitar fugas de informação quanto às deliberações sobre a sentença. Um dos acusados, o alegado ideólogo dos atentados, Rabei Osman El Sayed “O Egípcio”, conhecerá a sentença através de videoconferência, uma vez que, depois do julgamento de Madrid, regressou a Itália para acabar de cumprir uma condenação por pertencer a uma organização terrorista que lhe foi imposta neste país. Hoje, o Tribunal de Apelação de Milão reduziu de oito para dez anos a pena que lhe fora imposta em primeira instância. A sentença de quarta-feira deve dar resposta a várias interrogações surgidas durante os três anos de instrução do processo e os quatro meses e meio de julgamento. O texto poderá esclarecer questões como a razão que levou os terroristas a cometer os atentados em Madrid, a possibilidade de a organização separatista basca ETA ter algo a ver com eles, o tipo de explosivos usado, o manejo das provas após os atentados ou as possíveis falhas das forças de segurança. Segundo o juiz Juan del Olmo, que instruiu o processo, e a procuradoria, os acusados visitaram um "site" islâmico na Internet que exortava os “mujahedines” a actuar contra a Espanha devido à sua participação na guerra no Iraque e recomendava que fosse aproveitada a proximidade das eleições, que se realizaram três dias depois, a 14 de Março. Sobre o envolvimento da ETA, cuja implicação é admitida por alguns órgãos de comunicação e sectores conservadores, afirmou-se na instrução que essa possibilidade não tinha qualquer consistência. O tribunal interrogou contudo três etarras, detidos dias antes do 11 de Março quando transportavam para Madrid uma carrinha carregada de explosivos, que negaram qualquer relação com grupos radicais islâmicos. Apenas o ex-director geral da polícia Agustin Diaz de Mera se referiu a um suposto relatório sobre as ligações da ETA com o massacre, mas a sua recusa em revelar quem lhe tinha falado isso levou o tribunal a acusá-lo de desobediência. Quanto aos explosivos, os oito especialistas encarregados de elaborar um relatório definitivo sobre qual a substância que explodiu nos comboios concluíram que os terroristas utilizaram dinamite, mas não chegaram a acordo quanto à marca comercial. Também a recolha, transferência e contagem dos elementos encontrados nos locais dos atentados levaram alguns advogados a colocar interrogações. Algumas partes sugeriram que foram adulteradas provas e que não houve vigilância policial sobre elementos determinantes da investigação, como uma mochila armadilhada que não chegou a explodir ou os materiais encontrados num veículo utilizado pelos terroristas. Finalmente, as declarações dos investigadores policiais durante o julgamento evidenciaram que existiu descoordenação entre as forças de segurança, pois vários dos alegados autores dos atentados estavam já identificados antes do massacre.