Sem-abrigo dos Açores estão sensibilizados e cumprem medidas
Covid-19
18 de mar. de 2020, 12:51
— Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa, Hélder
Fernandes, psicólogo e coordenador da equipa da rua da Associação Novo
Dia, explicou à Lusa que "estão a ser tomadas medidas de contingência,
de acordo com as orientações da Direção Regional da Saúde e Governo
Regional dos Açores, plano que já se encontra em vigor desde 12 de
março".A associação, que gere três
valências de acolhimento, está atualmente a dar resposta a 30 pessoas (a
capacidade máxima) no Centro de Acolhimento Temporário de Emergência
Misto, a sete pessoas (também a capacidade máxima) no Centro de
Acolhimento Temporário Masculino e a 10 pessoas no Centro de Acolhimento
Temporário Feminino.Na instituição, foram
implementadas medidas de "psicoeducação junto dos funcionários e
utentes acerca do novo coronavírus", explicando-se a importância do
"reforço da higiene pessoal e higienização dos espaços, a importância do
distanciamento físico entre as pessoas, de evitar os cumprimentos
típicos de socialização, evitar saídas dos centros, exceto em situações
imprescindíveis, e os procedimentos a adotar num caso suspeito de doença
Covid-19".O psicólogo sublinhou que "os utentes estão em concordância com as medidas implementadas, cumprindo com as mesmas"."Aliás,
antes da ativação do plano de contingência, já estávamos a desenvolver
ações de sensibilização face à Covid-19, antecipando um possível
agravamento nacional e regional", completou. A
equipa de rua tem, neste momento, assinaladas 10 pessoas, que são
"pontualmente acolhidas, mas que continuam a beneficiar da intervenção
de rua", informou o coordenador.Junto
destas pessoas, "têm-se principalmente reunido esforços no sentido de
providenciar acolhimento e condições humanas a todos os utentes
sinalizados em situação de sem-abrigo. Em paralelo, como recomendado
pelas autoridades de saúde, têm-se facultado ações de sensibilização e
informação relativamente às medidas". Além
das valências da Associação Novo Dia, que aceita utentes com consumos, o
edifício da Rua Pintor Domingos Rebelo alberga também a Residência
Comunitária da Cáritas, uma "unidade de acolhimento temporário de médio
prazo, no máximo de um ano, dirigida a isolados em situação de carência
económica, já reabilitadas e com um plano de inserção".O
diretor técnico da Cáritas em São Miguel, Filipe Machado, explicou à
Lusa que, à semelhança das valências que partilham o edifício, as
medidas de contingência adotadas passam por redobrar os cuidados de
limpeza e desinfeção, promover junto dos utentes hábitos de higiene
pessoal como lavar e desinfetar frequentemente as mãos, proibir os
cumprimentos sociais e restringir as saídas a dois períodos diários que
não devem exceder a meia hora.Numa
valência que acolhe uma "população ligeiramente mais idosa", os cuidados
passam também por medir a temperatura dos utentes duas vezes por dia,
"para monitorizar alguma anomalia, porque muitos utentes não têm
capacidade de verbalizar indisposição”.Os
22 utentes foram "divididos por grupos de cinco, nomeando para cada
grupo uma personalidade de referência", que fica encarregue de informar
os outros, uma "medida importante e bem aceite pelos mesmos", que
permite "de forma bastante simples e efetiva passar a mensagem",
descreveu Filipe Machado."Daqui para a
frente, sempre que for necessário atualizar alguma atualização,
reunimo-nos apenas com esses utentes", concretizou.Por enquanto, os serviços de atendimento ao público foram suspensos, assim como novas admissões.Ao
contrário do que acontece com a Associação Novo Dia, que tem a valência
de ‘drop-in’ - em que os utentes chegam muitas vezes pelo próprio pé e
que, por isso, tem uma população mais flutuante -, na Residência
Comunitária da Cáritas, "as pessoas são sinalizadas por equipas do
Instituto de Segurança Social dos Açores" e há um "encaminhamento
programado das admissões", através de reuniões semanais com o instituto,
que foram canceladas durante o período de contingência decretado pelo
Governo Regional.Os Açores são a região do
país, segundo o Instituto Nacional de Estatística, onde o risco de
pobreza ou exclusão social é mais elevado. "A expressão da pobreza mais
severa", a de sem-abrigo, "está circunscrita ao centro de Ponta
Delgada", com casos pontuais noutras localidades da ilha, ou noutras
ilhas, mas que são prontamente resolvidos, adiantou à Lusa a Secretaria
Regional da Solidariedade Social, em novembro.