Secretário da Agricultura dos Açores diz que tourada é a melhor escola de cidadania
24 de jan. de 2025, 18:01
— Lusa/AO Online
“Na tourada há
a dignidade, há a responsabilidade, aprende-se a trabalhar em grupo,
aprende-se a cumprir as regras, há disciplina. Eu não encontro uma
escola de cidadania melhor do que a tourada”, afirmou o titular da pasta
da Agricultura do executivo PSD/CDS-PP/PPM.António
Ventura falava, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, na sessão de
abertura do IV Fórum Mundial da Cultura Taurina, organizado pela
Tertúlia Tauromáquica Terceirense e que reúne cerca de 250 participantes
de oito países.O governante açoriano
salientou que a cultura taurina “tem uma raiz profunda no povo açoriano,
em especial nos terceirenses”, e alegou que “é uma falácia dizer-se que
não há bem-estar animal na tourada”.“Não
conheço nenhum animal que seja tão protegido como o touro, em
legislação, em regras. O touro é um elemento central de qualquer tourada
e o que mais existe é legislação a proteger esse animal”, apontou.O
antigo presidente da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e membro da
comissão organizadora do fórum José Parreira lembrou que, em 2009, o
parlamento açoriano rejeitou uma proposta que previa a legalização da
sorte de varas, em que os touros são picados, alegando que “a
tauromaquia ficou mais pobre”.“Queremos
afirmar aqui hoje que o tema jamais foi esquecido e que na altura devida
voltaremos a incomodar os nossos representantes com aquilo que para nós
é uma prática essencial. É pela reposição da sorte de varas que
recomeçaremos a ganhar o futuro”, adiantou.Na
reação, o secretário regional da Agricultura desafiou a Tertúlia
Tauromáquica Terceirense a voltar a sondar a possibilidade de a sorte de
varas ser discutida no parlamento, alegando que a arquitetura atual,
com oito partidos e sem uma maioria absoluta, “pode ser uma vantagem”.“Não
vai ser uma tarefa fácil, teremos de fechar os ouvidos e os olhos a
muitos ataques, mas nos Açores mandam os açorianos e mandam através do
seu parlamento regional, primeiro órgão da nossa soberania”, afirmou.“Vamos
enriquecer esta arte, esta projeção e manter viva esta tradição
açoriana. Gostar dos touros e viver a festa com os touros é ser
açoriano”, acrescentou.Em 2009, PSD e PS
deram liberdade de voto aos deputados no parlamento açoriano e o projeto
de decreto legislativo regional para a legalização da sorte de varas,
subscrito por 26 deputados, de PS, PSD, CDS-PP e PPM, acabou por ser
chumbado com 28 votos contra, 26 a favor e duas abstenções, mas um
deputado, que se teria comprometido a votar favoravelmente, estava
ausente no momento da votação.Num encontro
para debater o futuro da tauromaquia, José Parreira apelou a uma “união
efetiva e global dos movimentos taurinos” e defendeu que é preciso
“inverter o sentido da mensagem”.“Pô-los a
eles [movimentos anti-tauromaquia] a justificar o que para eles é
óbvio. Aí veremos rapidamente a fragilidade da argumentação”, apontou o
antigo presidente da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.José
Parreira considerou que é preciso “conquistar o espaço mediático, não
com chavões, nem demagogias, mas com atos concretos, com números e
evidências científicas”.“O futuro da festa
passa pela capacidade de modernizar sem perder a essência. Sermos
capazes de comunicar com os novos meios disponíveis e reconhecíveis
pelas novas gerações e assim inverter a pirâmide etária da ‘afición’.
Não temos de ser modernos, 'cool' ou fixes, temos de ser autênticos”,
salientou.O IV Fórum da Mundial da Cultura
Taurina debate durante três dias, na ilha Terceira, o futuro da
atividade, em mesas redondas e conferências, que juntam toureiros,
ganadeiros, advogados, veterinários e jornalistas, entre outros, com
participantes de Espanha, França, Portugal, México, Colômbia, Peru,
Venezuela e Equador.Em comunicado de
imprensa, sete associações de bem-estar animal e movimentos pela
abolição das touradas criticaram os apoios concedidos pelo Governo
Regional dos Açores e pelos municípios da ilha Terceira para a
realização deste evento.“Num mundo onde
cada vez mais são reconhecidos e respeitados os direitos dos animais,
alguns cidadãos da ilha Terceira envergonham os Açores ao promoverem um
evento onde se promoverá uma prática, a tauromaquia, que já devia estar
há muito tempo abolida do mundo civilizado”, lê-se no comunicado.