"Se Governo recorrer ao TC por diplomas sobre professores será obstáculo às soluções”
16 de jul. de 2021, 16:00
— Lusa/AO Online
Segundo
o semanário Expresso, em causa estão dois diplomas que obrigam à
abertura de um concurso de vinculação extraordinária de professores nas
escolas do ensino artístico especializado e outro que obriga o Governo a
negociar a revisão do regime de recrutamento e mobilidade do pessoal
docente dos ensinos básico e secundário, e que foi promulgado pelo
Presidente da República na quinta-feira.Na
nota publicada no site oficial da Presidência da República, Marcelo
Rebelo de Sousa justifica que, à semelhança do que fez "noutras ocasiões
em que o parlamento aprovou soluções de caráter programático, na
fronteira da delimitação de competências administrativas", promulga esta
lei "pacificamente, fazendo doutrina", dando como exemplo a Lei do
Orçamento do Estado para 2021. O
pedido de apreciação da constitucionalidade dos dois diplomas ainda não
foi confirmado pelo executivo, mas se o fizer, diz a Fenprof, o Governo
"confirma-se como principal obstáculo às soluções" para os problemas
dos professores que não resolve."O
Governo, com destaque para o Ministério da Educação, assume-se, assim,
como o principal obstáculo à resolução dos problemas que afetam os
professores, rejeitando negociar as propostas apresentadas pela Fenprof,
contestando no TC as soluções que, perante a sua inoperância, a
Assembleia da República aprova e, até, "esquecendo" as medidas que o
próprio PS apresentou no seu programa eleitoral", escreve a estrutura
sindical em comunicado.Para
os representantes dos professores, a confirmar-se, a decisão
representará o principal bloqueio à negociação coletiva e à
estabilização e valorização dos profissionais."Perante
esta atitude antidemocrática e irresponsável do Governo, [os
professores] não deixarão de lutar pela valorização de uma profissão
que, face às políticas negativas dos governos, designadamente do atual,
tem cada vez menos candidatos, fazendo perigar a qualidade da Educação
em Portugal", sublinham.Referindo-se
concretamente ao diploma que prevê a vinculação extraordinária de
professores do ensino artístico especializado nas áreas das artes
visuais e dos audiovisuais, a Fenprof considera que o motivo para a
contestação do executivo é o facto de a lei estabelecer objetivos de
promoção de estabilidade do corpo docente."É
de referir que as leis postas em causa não dispensam a negociação entre
Governo e sindicatos e até referem a sua necessidade, pelo que não há
qualquer substituição do Governo. O que há é inépcia deste", acrescenta o
comunicado.O
diploma em causa, que foi publicado em Diário da República na
terça-feira, determina a abertura de um concurso de vinculação
extraordinária no período dá 30 dias desde a publicação da lei, bem como
a abertura um processo negocial com as estruturas sindicais, para
aprovação de um regime específico de seleção e recrutamento.Relativamente
ao concurso, está estipulado que o número de vagas a abrir considere as
necessidades permanentes identificadas pelas escolas, sendo que os
docentes com três contratos sucessivos, com horários anuais e completos,
são automaticamente integrados nos quadros.O
segundo documento que, segundo o Expresso, também merecerá um pedido de
fiscalização, foi promulgado na quinta-feira pelo Presidente da
República e obriga Governo a negociar o regime de recrutamento de
pessoal no básico e secundário, sendo que o Ministério da Educação
reuniu recentemente com estruturas sindicais sobre este tema.Ainda
assim, no prazo de 30 dias após a publicação do diploma, a tutela tem
de abrir formalmente o processo de negociação do novo regime, que deverá
obedecer a quatro critérios definidos pelo decreto: "Respeito pela
graduação profissional e eliminação de ultrapassagens; vinculação de
docentes contratados mais célere e sistemática; inclusão dos horários
incompletos para efeitos de mobilidade interna; e alteração dos
intervalos horários".Entretanto,
o Presidente da República também reagiu, desdramatizando um eventual
recurso do Governo ao TC, alegando que isso é próprio da democracia.A
agência Lusa questionou o gabinete do Ministério de Estado e da
Presidência se se confirmava este recurso, mas até ao momento não obteve
resposta.