Saúde preventiva de pessoas com mais de 50 anos mais afetada durante covid-19
18 de jun. de 2024, 10:45
— Lusa
O estudo foi realizado por uma
equipa de investigadores do Centro de Investigação em Economia e Gestão e
docentes da Faculdade de Economia que analisou dados de 123 mil pessoas
com 50 ou mais anos de idade, de 28 países (da União Europeia, exceto
Irlanda, e incluindo Suíça e Israel).A
equipa de investigação, composta por Carlota Quintal, Micaela Antunes,
Luís Moura Ramos e Óscar Lourenço, apresenta uma relação entre
necessidades de cuidados de saúde não satisfeitas na primeira vaga da
pandemia, em 2020, e o reporte de diagnóstico de cancro em 2021.Através
da análise dos efeitos das necessidades de cuidados de saúde não
satisfeitas (NNS) em 2020 no estado de saúde das pessoas em 2021, a
investigação chama a atenção para a forma como as crises pandémicas
podem impactar os sistemas de saúde, em particular o diagnóstico de
doenças graves.De acordo com a equipa de
investigação, “no caso concreto da pandemia de covid-19, os níveis de
NNS em 2020 atingiram valores sem precedentes”.“Além
do medo da infeção pelo SARS-CoV-2, que afastou as pessoas dos serviços
de saúde, estes serviços também cancelaram inúmeros cuidados de saúde
programados”.A equipa analisou três
motivos para a ocorrência de NNS, nomeadamente “consultas médicas
agendadas que foram adiadas (o motivo mais prevalente, com 25% a 12% das
pessoas a relatarem pelo menos uma situação entre 2020 e 2021,
respetivamente)”, a “desistência de algum cuidado de saúde por medo da
covid-19” e a “solicitação de consulta não atendida”.No
estudo, “não se sugere que as NNS resultaram em cancro, mas sim que as
pessoas deixaram de fazer exames em 2020 que afinal eram pertinentes e
que, possivelmente, tiveram um diagnóstico tardio”.No
entanto, “os resultados revelam que os sistemas de saúde não negaram a
prestação de cuidados a quem apresentava maior risco de vida”, referiram
os investigadores.“Encontrámos uma
associação negativa entre NNS e mortalidade, o que parece indicar que os
sistemas de saúde priorizaram doentes mais graves, mostrando a
capacidade de identificar os indivíduos que corriam maior risco de vida e
dar-lhes acesso prioritário, mesmo num contexto adverso e inédito”,
explicaram.E, de acordo com os resultados
da análise, “em 2021 as chances de novos diagnósticos de cancro são
maiores entre os indivíduos que tiveram cuidados de saúde cancelados,
negados ou que por medo faltaram às consultas ou exames em 2020”.Os
investigadores clarificaram que, neste estudo “não é sugerido que estas
consultas ou exames pudessem ter evitado o diagnóstico de cancro, mas
sim que se estas pessoas não tivessem experienciado necessidades de
cuidados de saúde não satisfeitas em 2020 poderiam ter recebido o seu
diagnóstico mais cedo”.“No caso do cancro, o tempo é fundamental para a morbilidade e mortalidade associadas”, sublinharam.No
que respeita ao contexto português, dados de um outro estudo conduzido
pela mesma equipa de investigação apontam que 60% dos indivíduos
inquiridos “tiveram pelo menos uma NNS, sendo o cancelamento por parte
dos serviços de saúde o motivo mais frequente”.“Tendo
em conta a magnitude do fenómeno das NNS em Portugal na primeira vaga
da pandemia, os resultados relatados devem ser causa de preocupação,
pois fazem-nos acreditar que tivemos casos de diagnóstico de cancro
tardio”, alertaram os investigadores.Neste
âmbito, consideraram que “uma lição para o futuro é a necessidade de
equilibrar mais a atenção dada aos doentes afetados pela pandemia e aos
restantes”.“E, dentro destes últimos, não descurar cuidados preventivos com maior potencial para afetar a sua saúde”.