Santos Silva diz que seria “uma nódoa” no currículo ser considerado presidente de deputados do Chega
20 de out. de 2023, 12:01
— Lusa/AO Online
Durante
um debate em plenário, a deputada do Chega Rita Matias pediu para fazer
uma interpelação à mesa sobre a condução dos trabalhos, tendo Augusto
Santos Silva frisado que só a poderia fazer caso utilizasse a fórmula
“senhor presidente” ou “senhor presidente da Assembleia da República”, e
não “senhor presidente de algumas bancadas”, como o Grupo Parlamentar
do Chega tem feito recentemente. “Nestes termos, não vou fazer a minha intervenção porque não admito ser censurada”, respondeu Rita Matias. A
situação gerou tensão no hemiciclo, com o líder parlamentar do Chega,
Pedro Pinto, a acusar Santos Silva de “não despir a camisola do PS” e de
ter desrespeitado Rita Matias, reiterando que o seu partido não o
considera seu presidente. Na resposta,
Santos Silva disse que foi eleito com o voto de 156 deputados e é
“presidente de todas e todos os deputados, incluindo os deputados do
Chega” e, perante todos, cumpre as suas obrigações.No
entanto, no que se refere à expressão “presidente de algumas bancadas”,
Santos Silva pediu aos deputados do Chega para “não se acanharem”,
salientando que o partido tem cartazes no país, e alguns no parlamento,
que sugerem “a eliminação física dos seus adversários políticos” e André
Ventura referiu-se, num artigo, à República como um “bordel de
patifaria”.“Imagine o que era essa bancada considerar-me a mim seu presidente. Que nódoa seria no meu currículo”, disse.Este
momento de tensão gerou-se depois de a deputada única do PAN, Inês
Sousa Real, ter considerado que o presidente da Assembleia da República
deveria ter interrompido uma intervenção de Rita Matias durante um
debate sobre duas propostas de lei do Governo na área do desporto,
defendendo que o conteúdo do discurso da deputada não se enquadrava no
tema do debate, e continha mensagens xenófobas e homofóbicas.Nessa
intervenção, Rita Matias tinha começado por abordar a fuga de cidadãos
de países comunistas para o Ocidente na segunda metade do século XXI,
argumentando que, perante o “fracasso” do modelo comunista, os
“académicos marxistas” tentavam agora “derrotar o Ocidente” através da
cultura. Depois, tinha abordado a
participação de atletas internacionais transgénero em competições,
alegando que adulterava os resultados desportivos e “humilhava e
prejudicava as mulheres”, acusando depois o Governo de estar a abrir a
“porta ao assédio e violação” nas escolas através de balneários mistos.Respondendo
a Inês Sousa Real, Augusto Santos Silva disse que não tinha utilizado a
sua prerrogativa de interromper a intervenção de Rita Matias por
confessar “humildemente a sua incapacidade de seguir o raciocínio
expresso”.“O que foi dito excede em tanto a
minha incapacidade intelectual, afetiva, emocional, de acompanhar um
argumento qualquer que ele seja, que eu me limitei a esperar que o
relógio passasse e o orador em questão finalmente se calasse”, disse.Já
no encerramento do debate, o secretário de Estado da Juventude e do
Desporto, João Paulo Correia, considerou que a intervenção de Rita
Matias foi “incapaz de citar casos ocorridos em Portugal” e, citando
casos internacionais, construiu uma “fabulação sobre o desporto
português, lançando anátemas que o setor rejeita”.