Santa Maria teve nos intensivos 10 crianças com síndrome pós-covid, a maioria assintomática
Covid-19
9 de mar. de 2021, 12:46
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa, a diretora da Unidade de Cuidados
Intensivos (UCI) pediátricos, Marisa Vieira, explicou que este síndrome,
que é como que uma resposta exagerada do sistema imunitário e está
associado à infeção por Sars-Cov-2, tem aparecido cerca de quatro
semanas após a infeção e que "a maioria destas crianças foram
assintomáticas"Nestes 10 casos, quatro
deles já este ano, as crianças/jovens precisaram deste internamento
“porque tiveram falência cardíaca importante” e houve um caso mais grave
em que o doente teve de estar ligado ao ECMO (sistema que pode
substituir os pulmões e o coração).Como
estes doentes não tinham tido quaisquer sintomas de covid-19, não havia
nenhum teste positivo realizado anteriormente e foi apenas pela análise
serológica no hospital que se percebeu que tinham tido contacto com o
vírus."O que havia era infeção anterior em
contexto familiar, com pais ou avós que tinham sido positivos ao novo
coronavírus quatro a seis semanas antes", afirmou.A
febre alta (39,5 graus) e que não cede facilmente (reaparece de quatro
em quatro ou de seis em seis horas) é dos primeiros sintomas a
manifestar-se. Além da febre, estes
doentes apresentavam ainda “uma componente gastrintestinal importante,
com dor abdominal, diarreia e vómitos”, e, nalguns casos, “alguma
disfunção cardiovascular, com sensação de desmaio e falta de força, o
que, quando são internados, se percebe que está associado a alguma
disfunção do coração”, explicou.Em
declarações à Lusa junto à Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos de
Santa Maria, que tem na totalidade oito camas (duas delas em quarto
isolado para covid), Marisa Vieira contou que a criança mais nova que
ali esteve internada com este sindrome tinha sete anos e a mais velha
17. No dia da visita da Lusa, na segunda-feira, estava nos cuidados
intensivos a recuperar um jovem de 16 anos.A
especialista explicou também que os sintomas que apresentam não são
todos iguais e alguns são mais característicos de determinadas faixas
etárias: ”as crianças mais novas têm mais sintomas que este síndrome
partilha com a doença de Kawasaki, mais alterações na pele, algum
exantema (manchas), edema das extremidades, olhos muito vermelhos e
fissuras nos lábios”.Já os mais velhos, acrescenta, “têm mais disfunção cardíaca, mais uma componente de miocardite”.Foi
o caso de um jovem de 17 anos, que evoluiu de forma mais grave pois
apresentou "uma grande disfunção cardiovascular” que não se conseguia
reverter apenas com medicação, mesmo em doses altas.“Aí
foi preciso recorrer ao ECMO”, explicou Marisa Vieira, sublinhando que o
jovem esteve ligado a esta máquina nove dias e acabou por recuperar
bem.“Felizmente correu bem. Neste e nos
restantes casos que tivemos. Todos tiveram alta para casa e estão a ser
seguidos pela cardiologia”, relatou.Uma
vez que a maioria das crianças/jovens não desenvolve sintomas associados
à infeção pelo novo coronavírus, Marisa Vieira aconselha os pais a
estarem atentos pois este síndrome pode dar sinais entre três e seis
semanas após infeção.A diretora da
Cardiologia pediátrica do Santa Maria, Mónica Rebelo, explicou à Lusa
que estes casos de síndroma inflamatório multissistémico é uma das
formas de “compromisso cardiovascular” que resulta da infeção.“Habitualmente,
as manifestações em termos cardíacas são a vários níveis porque esta
inflamação pode atingir todas as partes do coração, desde o endocárdio,
ao miocárdio e ao pericárdio”, explicou Mónica Rebelo, acrescentando que
“a expressão da doença pode ser variável”.“A
que nós temos encontrado mais frequentemente é a disfunção miocárdica
com dilatação do coração e com insuficiência cardíaca e, por isso, os
doentes surgem com quadros de hipotensão, com necessidade de
internamento nos cuidados intensivos e muitas vezes com necessidade de
algum tipo de suporte inotrópico” [para ajudar o coração a contrair].Embora
estas situações na fase aguda possam ser graves, Mónica Rebelo sublinha
que, “felizmente, a grande maioria – no caso do Santa Maria 100% - tem
corrido bem e os doentes têm recuperado a sua totalidade”.Mas
“é importante serem descobertas e pensadas a tempo para o tratamento
anti-inflamatório ser instituído e para melhorar francamente o
prognóstico dessas situações”, acrescentou.Mónica
Rebelo explica que estes doentes são acompanhados quando estão
internados (na fase aguda), mas depois de terem alta continuam a ser
seguidos, com recomendações próprias quanto à prática de exercício
físico.“Estes doentes são acompanhados
nesta fase aguda e, depois da alta, são encaminhados para a consulta de
cardiologia pediátrica e o seguimento é feito de forma regular”, refere,
acrescentando que, de início, o acompanhamento é de 15 em 15 dias,
depois de mês a mês, de três em três meses e de seis em seis. Tudo
depende da evolução dos casos.Nos
primeiros seis meses “a nossa recomendação é que não haja retoma do
exercício físico regular ou, pelo menos, com alguma intensidade, e que,
obviamente de acordo com as alterações iniciais, também vai ser
diferente de doente para doente”, disse.