Salgado recusa gestão danosa e qualquer culpa pela situação dos lesados
31 de out. de 2017, 19:00
— Lusa/AO online
"Isso
vai ter que ser apurado aqui, mas posso dizer que efetivamente o que
aconteceu depois da minha saída foi o colapso provocado pelas provisões
que foram mandadas constituir pelo Banco de Portugal e os auditores e
que levaram o banco para um nível de rácio de solvência que não era
possível, de acordo com as regras internacionais, manter a sua relação
com o Banco Central Europeu", declarou. "Foi isso que criou a queda do Banco Espírito Santo [BES]", acrescentou. Ricardo Salgado
falava à saída de uma audiência do julgamento do pedido de impugnação
da contraordenação de 4,0 milhões de euros aplicada pelo Banco de
Portugal (BdP) por comercialização de título de dívida da Espírito Santo
Internacional (ESI) junto de clientes do banco, que decorre no Tribunal
da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), em Santarém, e no
âmbito do qual prestará declarações hoje à tarde. Os mandatários de Ricardo Salgado
juntaram ao processo um parecer que, afirmou, "mostra, claramente, que
as provisões que foram constituídas e que contribuem, claramente, para a
destruição dos rácios de solvência do BES não eram de acordo com as
regras do International Accounting Standards". Recusando ter tido
uma gestão ruinosa do banco, Salgado declarou ter a "convicção profunda
de que vai provar isso", acrescentando lamentar o que aconteceu aos
lesados com a comercialização da dívida da ESI. "Dói-me
profundamente a situação", afirmou, sublinhando que até sair do banco, a
13 de julho de 2014, "os lesados que tinham papel comercial e
investimentos no grupo foram integralmente pagos". Ricardo Salgado
reafirmou que a resolução do BES "foi um desastre", opinião que julga
ser hoje compartilhada por "muitas pessoas", já que "houve provisões que
foram transferidas para o Novo Banco e que depois não foram utilizadas
para solver os compromissos com os lesados". "Quando deixei o
banco, o banco tinha recursos mais do que suficientes para reembolsar
todos os lesados e era isso que estava previsto", frisou. Sobre o processo em julgamento no TCRS, Ricardo Salgado
lamenta que o relatório da Boston Consulting, que "custou 910 mil euros
aos portugueses, nunca mais saia cá para fora", pois é "essencial para
se conseguir apurar a verdade do que aconteceu". O ex-banqueiro
referiu ainda "condicionamentos na inquirição" por parte do BdP "em
relação a duas testemunhas", uma das quais terá sido "descoberto"
durante as audições que terá "uma relação de familiaridade ou de amizade
com outra testemunha muito significativa", mas recusou avançar qualquer
nome. Na audição do passado dia 07 de setembro, o Ministério
Público pediu a extração de declarações do antigo responsável financeiro
do Grupo Espírito Santo José Castella, para que seja averiguado se foi
alvo de coação durante a inquirição pelo Banco de Portugal, em setembro
de 2014, como afirmou na audição desse dia. Na audiência de hoje, a manhã foi ainda preenchida com o resto do depoimento de Amílcar Morais Pires, que, tal como Ricardo Salgado,
pediu ao TCRS a impugnação da contraordenação de 600.000 a que foi
condenado, em 2016, pelo Banco de Portugal (BdP) por não implementação
de sistemas de informação e comunicação adequados e não implementação de
um sistema de gestão de riscos sólido, eficaz e consistente, no que
concerne à atividade de colocação de produtos emitidos por terceiros.