Salesianos manifestam “tristeza e perplexidade” face a suspeitas de abuso que envolvem Ximenes Belo
29 de set. de 2022, 12:55
— Lusa/AO Online
Em comunicado, os salesianos
referem que, desde que assumiu funções na diocese de Díli “como
administrador apostólico e depois bispo”, Carlos Ximenes Belo “deixou de
estar dependente da Congregação Salesiana”, tendo a Província
Portuguesa, “a pedido dos seus superiores hierárquicos”, recebido o
prelado “como hóspede durante os últimos anos”.“Desde
que se encontra em Portugal não tem tido quaisquer cargos ou
responsabilidades educativas ou pastorais ao serviço da nossa
Congregação”, asseguram os salesianos, adiantando que “o pedido de
hospitalidade” foi “aceite com toda a naturalidade por se tratar de uma
pessoa conhecida e estimada por todos”.Sobre
as suspeitas de abusos vindas a público na quarta-feira, os salesianos
em Portugal afirmam não terem conhecimento para se pronunciarem,
remetendo para quem tem essa competência e conhecimento.O
jornal holandês De Groene Amsterdammer publicou na quarta-feira
testemunhos de alegadas vítimas de abusos sexuais, quando eram menores,
crimes que terão sido cometidos durante vários anos pelo
ex-administrador apostólico de Díli e Nobel da Paz Ximenes Belo.Na
sua edição online, o jornal explica ter ouvido várias vítimas e vinte
pessoas com conhecimento do caso, incluindo "individualidades, membros
do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e
elementos da Igreja"."Mais de metade das
pessoas pessoalmente conhecem uma vítima dos abusos e outros têm
conhecimento do caso. O De Groene Amsterdammer falou com outras vítimas
que recusaram contar a sua história nos media", referia a jornalista
Tjirske Lingsma.O jornal explicava que as
primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002, quando um
timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.Em
novembro desse ano, Ximenes Belo anunciou a sua resignação do cargo,
alegando problemas de saúde e a necessidade de um longo período de
recuperação."Estou a sofrer de fadiga
mental e física, o que requer um longo período de recuperação", referiu
Ximenes Belo, num comunicado em que informava ter escrito à Santa Sé
solicitando a renúncia do cargo de Administrador Apostólico de Díli,
função que exercia desde 1983."Tenho vindo
a sofrer de esgotamento, cansaço físico e psicológico, pelo que
necessito de um longo período de repouso em vista de uma recuperação
total da minha saúde", referia o comunicado, citado então pela Lusa.Ximenes
Belo, hoje com 74 anos, explicou que o seu pedido - escrito com base no
Cânone 401 do código de direito canónico - foi aceite pelo então papa
João Paulo II.Entretanto, o representante
do Vaticano em Timor-Leste disse na quarta-feira à agência Lusa que o
caso está com os órgãos competentes da Santa Sé, sem confirmar se o
prelado foi ou não investigado."Pessoalmente
não posso nem confirmar nem desmentir porque é uma questão de seriedade
da minha parte, visto a competência ser dos meus superiores na Santa
Sé", disse à Lusa Marco Sprizzi, representante do Vaticano em
Timor-Leste."Esta questão deve ser
dirigida diretamente à Santa Sé", referiu, questionado sobre a
veracidade das denúncias de alegados abusos de menores cometidos ao
longo de vários anos por Ximenes Belo, atualmente a residir em Portugal,
que foram publicadas pelo jornal holandês.Marco
Sprizzi explicou que o caso "está à atenção dos Dicastérios competentes
da Santa Sé e da Secretaria de Estado de sua Santidade o Papa
Francisco".O "assunto está diretamente com
o Vaticano e a Santa Sé. A Igreja local e a Nunciatura não têm mais
competência direta", enfatizou.