Salários de quem tem ensino superior caíram 11% na última década
21 de jun. de 2022, 10:19
— Lusa/AO Online
A edição de
2022 do relatório será apresentada hoje através da plataforma digital e
nas redes sociais da Fundação José Neves (FJN), tendo como oradores o
ex-primeiro-ministro e antigo presidente da Comissão Europeia Durão
Barroso, o neurocientista António Damásio, a cantora Alanis Morissette, o
gestor António Horta Osório, entre outros.De
acordo com o estudo, entre 2011 e 2019 o salário médio dos portugueses
aumentou apenas para os trabalhadores com o ensino básico, na ordem dos
5%, sobretudo por força do aumento do salário mínimo nacional e por via
da negociação coletiva.Já
os trabalhadores com o ensino superior e com o secundário registaram,
em média, perdas reais nos salários de 11% e de 3% respetivamente na
última década.No
caso dos mais jovens qualificados, as quedas salariais foram ainda mais
acentuadas, com os trabalhadores licenciados a registarem descidas
médias na remuneração de 15%, enquanto os mestres viram os salários
recuar 12% e os doutorados 22%, destaca o relatório.Ainda
assim, segundo o documento, os ganhos salariais dos trabalhadores mais
qualificados face aos que têm menor nível de escolaridade são
consideráveis, mas o diferencial diminuiu.“Em
2019 uma licenciatura resultava, em média, num ganho salarial de 50%
face ao ensino secundário”, pode ler-se no relatório, segundo o qual no
mestrado o ganho ascende a 59%.Os
prémios salariais também se verificam nos jovens adultos (dos 25 aos 34
anos) e são os mestrados que conferem um retorno salarial superior, com
ganhos de 43% face ao ensino secundário e de 15% face às licenciaturas.“Um
nível superior de educação aumenta a probabilidade de estar empregado e
de chegar aos dois níveis mais elevados de rendimento”, refere-se ainda
no relatório.As
pessoas com ensino superior têm uma probabilidade 16% superior de
estarem empregados e 50% superior de estarem entre os 40% da população
com maior rendimento, face a quem tem o ensino secundário.Para quem tem ensino secundário e ensino básico, essas percentagens são 10% e 29% respetivamente.O
efeito da educação na probabilidade de estar empregado é, no entanto,
menos forte nas gerações mais novas do que entre os mais velhos,
"sugerindo que a massificação da educação superior tornou um curso
superior menos distintivo e um menor garante de sucesso no mercado de
trabalho do que em gerações anteriores", lê-se no relatório. Enquanto
para as gerações nascidas nos anos 50 um ano adicional de escolaridade
aumentava o salário em 9,1%, para as gerações nascidas nos anos 90, esse
valor caiu para quase metade (4,8%), ou seja, "um nível de educação
mais elevado continua a compensar, mas menos do que no passado", conclui
o estudo.O
relatório refere que Portugal continua a ser um dos países da União
Europeia com os rendimentos mais baixos, apontando que, em 2019, o
rendimento anual médio líquido (em paridade de poder de compra) era de
13.727 euros, o sétimo mais baixo da UE. Os
portugueses com o ensino básico e secundário tinham um rendimento médio
de 10.976 euros e 13.612 euros respetivamente (o 10.º mais baixo entre
os 27 países membros), indica o relatório, acrescentando que para os
trabalhadores com o ensino superior o rendimento médio não ultrapassava
os 19.755 euros, sendo o oitavo mais baixo na UE.O
rendimento médio dos trabalhadores portugueses com educação superior em
2019 era menor do que o dos trabalhadores com o ensino secundário em 13
países da UE (Itália, Chipre, Irlanda, Finlândia, França, Malta,
Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Luxemburgo) e do
que os trabalhadores menos qualificados em cinco países da UE
(Finlândia, Áustria, Holanda, Dinamarca e Luxemburgo).Também
a produtividade "é cada vez menor face à média europeia" e "nem o
aumento das qualificações das gerações mais jovens inverteu essa
tendência", pode ler-se no documento.De
acordo com a análise, em 2019 Portugal era o sexto país com menor
produtividade, sendo equivalente a 66% da dos trabalhadores da UE, face a
70% entre 2006 e 2010.Segundo
se explica no relatório, a aposta das empresas na formação dos seus
trabalhadores pode aumentar a produtividade em 5%, mas apenas 16% das
empresas portuguesas o faz."Os
jovens estão cada vez mais qualificados, mas as qualificações dos
trabalhadores com menos de 35 anos apenas contribuem para ganhos de
produtividade quando os jovens têm um peso superior a 40% no total de
trabalhadores das empresas", realça o documento.De
acordo com o relatório, "se os jovens representarem entre 10% e 40% não
há melhorias na produtividade e se forem menos de 10% o efeito na
produtividade pode ser negativo"."As
qualificações dos gestores pesam praticamente tanto para a
produtividade como as dos trabalhadores, mas apesar de terem vindo a
aumentar, Portugal continua a ter a maior percentagem de empregadores
que não terminou o ensino secundário", avança o estudo, acrescentando
que, em 2021, este era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o
triplo da média europeia que se fixou em 16,4%.