Saída do presidente da Unidade de Saúde do Corvo foi para "resolver problemas"
1 de jun. de 2022, 15:03
— Lusa/AO Online
“Deixar
tudo como estava [na Unidade de Saúde de Ilha do Corvo] seria uma
absoluta irresponsabilidade política. Indecisão foi aquilo que os
açorianos disseram que não queriam [nas eleições regionais de 2020].
Estou aqui para tomar decisões, por muito que me custe, e custa-me
muito. Tenho boa relação com os três membros do CA. Era muito mais fácil
fazer de conta que não se passava nada. Mas estou aqui para resolver
problemas”, vincou Clélio Meneses.O
governante falava no plenário da Assembleia Legislativa Regional, no
âmbito da sessão de perguntas ao Governo sobre o Corvo, agendada pela
Iniciativa Liberal (IL).O secretário
regional do Governo de coligação PSD/CDS-PP/PPM justificou a decisão com
os “sinais de instabilidade” e “falta de cooperação entre os vários
membros” da administração, destacando que, com a nomeação de Paulo
Margato (antigo candidato do PPM) para o cargo, a mais pequena ilha dos
Açores passa a ter “dois médicos e dois enfermeiros”.“Queixas temos de todo o lado. A única situação de mau relacionamento entre membros do CA diz respeito ao Corvo”, notou. De
acordo com o secretário da Saúde, “está a dar-se oportunidade ao Corvo
de ter dois médicos” e, “se se verificarem problemas”, o executivo terá
“de corrigir a situação”. Paulo Estêvão,
eleito do PPM pelo Corvo, acusado de ter influenciado o Governo Regional
na decisão, recusou as críticas e lembrou as “perseguições políticas”
que lhe foram dirigidas, bem como à família, no tempo da governação
socialista.“A minha mulher teve vários
processos disciplinares por não ser do PS e, quanto a mim, os dois
horários que sempre existiram no Corvo para lecionar História deixaram
de existir para que eu não me pudesse candidatar ao Corvo. Tive de meter
licença sem vencimento para ser candidato pelo Corvo”, lamentou.Na
apresentação da sessão de perguntas, o deputado da IL, Nuno Barata,
sublinhou que não importa qual o partido do “médico A ou B”, nem se “os
líderes do partido A ou B interferiram nestes processos”.“O
que interessa é saber é o que de tão grave aconteceu para levar a esta
decisão”, disse o parlamentar, com quem o PSD fez um acordo de
incidência parlamentar após as legislativas regionais de 2020.Durante a sessão, Lubélio Mendonça, do PS, criticou a “telenovela governativa” e a “conduta pouco transparente” do executivo.António
Lima, deputado do BE, considerou “desconcertante” que o executivo “se
dedique a uma guerra pelo controlo político de uma ilha e do Governo”.Pelo PAN, o deputado Pedro Neves criticou a “politiquice entre o PCP e o PPM no Corvo”.O
deputado do Chega José Pacheco, que tem um acordo de incidência
parlamentar com o Governo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, considerou a
nomeação como “um caso político-partidário”, que entra em confronto com o
“combate ao amiguismo defendido” pelo partido.A 13 de maio, o secretário regional de Saúde dos Açores garantiu que o
Corvo não vai ficar sem médico e até “vai ter dois”, recusando
motivações político-partidárias na decisão de cessar funções ao
presidente de administração da Unidade de Saúde.“A
cessação de funções determinada por despacho diz respeito à presidência
do Conselho de Administração da Unidade de Saúde de Ilha do Corvo. As
funções de António Salgado como médico e delegado de saúde [no Corvo]
não estão em causa”, observou.À Lusa,
Clélio Meneses revelou mais tarde que o médico e antigo candidato do PPM
Paulo Margato foi nomeado presidente do conselho de administração da
Unidade de Saúde do Corvo, rejeitando qualquer problema ético, porque
“ninguém está impedido de ser nomeado para cargos por ter sido candidato
por qualquer partido”.