Rutte tem de fazer Aliança sobreviver a Trump e assegurar financiamento
NATO
30 de set. de 2024, 10:52
— Lusa/AO Online
Dez anos depois de
chegar ao cargo, o antigo primeiro-ministro da Noruega, Jens
Stoltenberg, vai deixar de encabeçar a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (NATO) e será sucedido pelo o ex-primeiro-ministro dos
Países Baixos.Rutte, de 57 anos, era o
único candidato na parte final do processo de decisão, depois da
desistência do Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, e foi anunciado no
dia 26 de junho.Na sua despedida, Jens
Stoltenberg deixou clara uma das prioridades da Aliança Atlântica e a
principal tarefa do seu sucessor: assegurar que a NATO continua coesa.Para
isso, Mark Rutte terá de fazer com que a organização político-militar
sobreviva a uma possível vitória do republicano Donald Trump nas
eleições presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA), no dia 05 de
novembro.Durante o seu primeiro mandato,
Donald Trump criticou em várias ocasiões a NATO e chegou a ameaçar com a
saída dos EUA, alegando desigualdades na contribuição dos países que
integram a organização sediada em Bruxelas (Bélgica) e da qual Portugal
faz parte desde o princípio, em 1949.Trump
já disse durante a campanha eleitoral que resolveria o conflito na
Ucrânia em pouco mais de um dia e é conhecida a proximidade do antigo
Presidente norte-americano ao homólogo russo, Vladimir Putin.Na
última intervenção que fez enquanto secretário-geral da NATO, Jens
Stoltenberg alertou para o perigo e isolacionismo entre os EUA e os
países na Europa.Na Europa estão a crescer
vozes contra a pertença da NATO, nomeadamente grupos e partidos
nacionalistas, que têm ligações à Rússia ou que simplesmente são contra a
existência da organização político-militar e a sua pertinência,
nomeadamente a União Nacional, em França, de Marine Le Pen, que já
admitiu retirar o país da NATO. O seu
partido cresceu nas eleições legislativas de junho e em outros países a
extrema-direita com posições contra a NATO está a propagar-se.Para
assegurar que a NATO continua coesa e que Trump não tem argumentação
possível, Mark Rutte tem de continuar a exigir mais investimento por
parte dos países da Aliança.O objetivo de
cada país da NATO investir pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB)
já faz parte do passado, agora a intenção é que o investimento mínimo
seja de 2% e que continue a crescer. Portugal prevê atingir este mínimo
no final da década.Stoltenberg repetiu em
praticamente todas as intervenções que fez nos últimos dois anos a
necessidade de investir mais em defesa e Mark Rutte deverá fazer eco
dessa mensagem.A incerteza na Ucrânia
continua a aumentar, o conflito degenerou numa guerra de atrito, com
poucos avanços e recuos de parte a parte e nem a invasão do território
russo fez com Moscovo arredar pé dos territórios ucranianos ocupados há
mais de dois anos.Como secretário-geral da
NATO, Mark Rutte terá de assegurar que os países do bloco
político-militar continuam a apoiar a Ucrânia, ainda que o apoio seja
bilateral, a ação tem de ser concertada para não haver mais falhas na
disponibilização, por exemplo, de armamento.A
Ucrânia está a utilizar grandes quantidades de armamento e depauperou
também o armazenamento dos países da NATO, que encontraram na compra
conjunta uma solução, enquanto a produção de armamento não é relançada
na Europa.Um acordo para um cessar-fogo ou
para o final do conflito não está fora de questão, mas é um elemento
imprevisível. No entanto, Mark Rutte terá de estar preparado para esse
cenário, enquanto continua a tentar aproximar a Ucrânia da NATO.A
adesão, por muito que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky,
insista, está fora de questão enquanto o país continuar em conflito, mas
o Conselho NATO – Ucrânia existe desde 2023 para aproximar o país da
Aliança Atlântica e para ações concertadas. Nesse
âmbito, Mark Rutte também terá de gerir expectativas da Ucrânia e os
ânimos de alguns países, nomeadamente os do leste da Europa, antigas
repúblicas soviéticas, que por diversas ocasiões disseram ser favoráveis
a uma intervenção da NATO.Recentemente,
os mesmos países discutiram a possibilidade de abater mísseis próximos
das fronteiras que partilham com a Ucrânia, mas a Rússia ameaçou que
interpretaria essa ação como um envolvimento direto da NATO no conflito.